Ficha para filha de Hades - Catelin Sofia-

Califórnia. Como esse lugar me irritava. Era alegria de mais, era sol de mais. Por quê as pessoas não podiam fazer silêncio uma vez na vida? Isso confundia tudo em mim. Meus pensamentos, minhas táticas. E ainda tinha essa porcaria de família, que nunca me deixava em paz. Ah, mas tinha uma coisa que não me incomodava aqui. As mortes.
Um sorriso passava por meu rosto toda a vez que eu ouvia o som das sirenes da polícia. "Opa, alguém aí está indo pro inferno..."
Sim. Eu não sou do tipo que pense no céu, no paraíso. Ninguém merece isso. Por mais que a pessoa seja boa, por mais que ela aparente ser, pelo menos, sempre vai ter algo dentro dela que é grande o suficiente para ser levado ao inferno. Meu pensamento era assim, e não me importava quantas vezes me levassem para fora de aula por pensar desse modo. Por falar desse modo. Eu era uma das primeiras na minha lista com direito ao melhor lugar no fogo do inferno.
No total, eu já tinha ido para 5 reformatórios. Todos um completo fracasso. Por favor! Eles tentavam convencer delinquentes juvenis de que Deus existe. O que leva uma pessoa a matar e se dizer seguidor de Deus? Não os meninos que eu encarava todos os dias acinzentados naquelas salas.
Você deve estar se perguntando por quê eu fui parar num reformatório, não é? Bem, não foi grande coisa. Eu só tive um ataque de nervos (e raiva) e matei minha mãe. Acho que, na minha lista, ela foi uma das últimas que foi parar no fogo do inferno. Em um canto em que o fogo não queimasse, mas fosse aconchegante. Sim, eu tenho um pouco de coração! Matei ela por impulso, não por querer. Minhas únicas lágrimas derramadas foram por ela, quando o sangue da mesma encharcou meus sapatos e minha roupa. Quando vi o corpo estendido bem na minha frente. Ela tinha uma expressão muito assustada na hora. Como se ela temesse isso. Desde muito tempo.
Enfim, quando o resto da família descobriu, é claro que ficaram com medo, e me mandaram embora. Mas depois de todas as escolas pelas quais eu passei, voltei pra casa, e fiquei sem estudar. Virei dona de casa. Uma empregada. Que ridículo. Além de ser vigiada 24 horas por dia, por câmeras que tinha escondido por todos os lugares, e que ainda pensavam que eu não via (eu ainda sorria para elas, mostrando que era uma boa menina). Já tinha ficado cansada. Eu não queria mais matar ninguém. Se eu estava sendo possuída, como diziam os professores para mim, nos reformatórios, que se dane. Eu só queria fugir e pronto. Então eu fugi. Desliguei os alarmes, que eu sabia a senha de cor, e desliguei as câmeras. Saí desfilando e sorrindo como se eu fosse a Miss Simpatia, com a mochila pendurada nos ombros. Eu não queria nem saber pra onde eu iria ir. Só ia ir.
Depois de muitos dias vagando por um monte de cidades que eu não conhecia (e dando uns murros em uns safados que não sabiam calar a boca na hora em que eu mandava), eu perdi completamente o juízo e decidi seguir um carinha que andava estranho. Não pensei que ele soubesse que eu o estava seguindo, eu tinha anos de treino nisso, perseguir pessoas era um hobbie. Mas ele sabia, afinal. E me levou pro lugar mais estranho que eu já pudesse imaginar. Um acampamento. Onde eu não fui recebida de modo muito... agradável.

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