Catelin Sofia (Ficha para filha de Hécate)

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Simples, normal. Era assim que poderiam definir-me. Aos olhos humanos a calmaria que a menina passava a todos era incrível. Controlada, simpática, realista. Uma pessoa que gerava confiança quando sorria, e empinava o nariz quando o seu orgulho era esbofetado. Uma pessoa que não dava-se por vencida, mas sim continuava em pé, mesmo com as dores de cólera que pudesse estar sentindo.
Mas o que os olhos humanos não vem, é por que a névoa o cobre.
Eu não sabia da verdade, por que eu iria saber. Quase todos não sabiam, em verdade. Mas coisas estranhas começaram a acontecer comigo e eu fui perdendo a minha sanidade aos poucos. Ou achava que estava.
Sentia que todos observavam-me, que todos tentavam me derrubar. As letras sempre flutuavam no papel, mas isso era normal, até o ponto em que elas começaram a formar palavras assustadoras, desejos de morte, desejos de vingança.
Chegava em casa com os olhos arregalados, tentando observar tudo o que se encontrava em minha volta. As pessoas passaram a dar-me medo, a perseguir-me. A única que parecia não me observar, não julgar-me era minha cobra. Doce Safya. Todos tinham medo de mim principalmente por causa dela. Uma cobra venenosa, assustadora, mas que além de tudo era minha única amiga, a única que não se importava com meus gritos de loucura, e sim sibilava para mim como se pedisse para eu ter calma. Calma, como sempre todos os outros dias eu vinha me mostrando. Uma menina calma.
Mas era difícil continuar, com os olhos sempre mostrando cada vez mais o que ocorria ao meu redor. Não, minha calma tinha ido embora, até o dia em que eu havia descoberto a verdade.
Um dia eu estava na escola, com os olhos pesados pelas noites mal dormidas, com olheiras que já vinham ganhando uma cor roxa, tentando ao máximo possível ignorar as letras que dançavam ao meu redor. Todos os olhares curiosos caiam sobre mim, como se eu fosse um monstro que estivesse a ponto de atacar todos. Mas a pergunta era: e eu não faria mesmo isso, se minha sanidade não estivesse boa como sempre estivera?
As letras formavam palavras em minha frente, palavras como “mentira”, “farsa”, “errado”, “anormal”, “perigosa”.
Levantei a mão.
-O que é, Catelin? – A professora olhou irritada para mim, como se pedir para sair por estar passando mal fosse muito errado. Quando levantei os olhos roxos para ela, a primeira coisa que eu pude ver em seu olhar era repulsa. Desejo de me ver longe da mesma. Algo que eu já estava me acostumando a ver nas pessoas. Ela mandou eu sair de sala e ir para a enfermaria, mas meu mundo insano já me enlouquecia tanto que eu só queria ir para um lugar: para onde estava o olhar querido, calmo e atencioso de Safya.
Corri para casa. Mesmo que o cansaço não permitisse, corri. Corri mais do que o normal. Abri a porta com grosseria e subi as escadas em segundos. Não havia ninguém para reclamar do meu barulho, nem para perguntar por quê eu não estava na escola. Se estivessem nem sequer se preocupariam. Abri a porta do meu quarto, e lá estava Safya, no chão, encarando-me com os olhos amarelados. Suspirei e deixei que ela se enrolasse por meu corpo, e subisse até meu pescoço. – O que está fazendo fora do aguário, Safya...? Ah, tanto faz, não é? Tanto faz tudo. – Acariciei a cabeça dela como se fosse um cachorrinho e sentei em minha cama. – O que está acontecendo, Safya? Por quê tudo fica me dizendo essas coisas? As palavras sempre flutuaram, mas agora elas ficam me contando segredos? Por quê ficam me perseguindo, me olhando com repulsa? Antes eles tinham medo de mim, Safya... Medo!
Safya sibilou em meu ouvido e desceu pelo meu braço. Eu gostava da cosquinha que seu corpo fazia quando se rastejava pelo meu, eu gostava de sentir o medo de um dia ela ficar insana como eu e então me picar. Eu gostava do fato de que um dia eu poderia morrer por causa da minha melhor amiga reptiliana. Ela percorreu o caminho até a porta de meu quarto e virou novamente para mim. Seus olhos diziam que eu devia segui-la, diziam que tudo melhoraria e eu acharia meu lugar. Diziam que as palavras não iriam mais flutuar, e que agora tudo o que elas formassem seriam de meu gosto, e não para meu medo.
Levantei da cama como se ela comandasse todos os meus sentidos e a segui. Ela rastejava pelos cantos mais estranhos da cidade, expulsava do caminho todos os assustados que viam a cobra passando e guiando sua dona. Encarava com olhos vingativos os que vinham atrás de mim, pessoas que quando eu virava para trás, podia reconhecer os rostos. Novamente as letras formavam a palavra “perigo” na minha frente, e meu corpo cansado conseguia mais energia para locomover-se atrás de Safya.
Então, sem eu ter noção do tempo que tinha caminhado atrás dela, com os pés dentro das botas doendo, e com a roupa ridícula de sainha da escola dando-me frio naquela noite; Safya parou e subiu novamente por meu corpo. Enrolou-se em meu pescoço e sibilou, apontando os olhos para a frente. “Aqui,” diziam os olhos dela “aqui é seu lugar”. Levantei os olhos, e dessa vez as palavras não me assustavam, dessa vez as letras não dançavam em minha volta zombando de mim. Eu sabia o que aquilo era, algo dentro de mim fazia com que eu me sentisse em casa, como se sempre tivesse sabido daquele lugar. E lembrei que Safya havia me contado.
Sorri, um dos poucos sorrisos que tinha consiguido dar depois de minhas longas semanas de loucura. – E aqui aceitam animais de estimação, Safya?

Obcecada.

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Por que eu tinha aquela necessidade?
Aquela necessidade de você?
Eu não o amava, mas mesmo assim, pegava-me obcecada se você chegaria logo.
Eu era somente sua amiga, mas mesmo assim, quando você disse aquelas palavras, peguei-me pensando onde você estaria agora.
Eu sei que aquilo não era paixão, era somente uma obcecação que eu tinha por todos quando me diziam o que você tinha dito para mim.
Mas era forte, forte de mais.
E isso me incomodava.
Eu sempre fui fria, sempre afastei o amor o mais rápido o possível, tentava fingir ignorância. 
Sempre falhava, mas pelo menos ainda tentava.
Tentava não me machucar, não me iludir.
E agora ali estava eu, pensando se você chegaria ou não, em uma espera constante e interminável.
"Ele só quer ficar com você, menina. Não é nada mais do que isso. Um beijo, um aperto, uma mordida. Depois nada mais. Sem sentimentos fortes."
"Sim, sem sentimentos fortes, só uns beijos e depois... depois nada. Ele ia embora de onde tinha voltado e pronto."
Fechava os olhos e dormia, sonhando com seu rosto, e imaginando os beijos que nós dois trocaríamos.
Eu balançava a cabeça quando via minha imagem movendo os lábios desesperadamente a procura de um sentimento forte, de amor, de paixão, bem escondido dentro de você, do qual eu pudesse me agarrar e finalmente iludir-me novamente, pensando que você seria diferente.
Eu não queria meu mal, eu só queria alguém. Alguém que cuidasse e me amasse, e esse alguém podia ser você, não podia?
Mas eu me sentia culpada por pensar isso. Eu não amava você, era obsessão.
Um desejo, nada mais do que um desejo.
De qualquer forma eu notava cada detalhe. 
E eu sempre fui uma mulher de detalhes.
Detalhes que podiam mudar meu modo de pensar.
Por que você tinha que chegar chamando-me de "minha linda" em vez de somente "linda", como sempre fazia?
Não!
Tinha que mudar no momento em que eu mais queria largar dessa oportunidade que eu havia inventado em minha mente.
"Eu não sou sua linda, eu só sou minha, de mais ninguém. É só um desejo, somente um desejo..."
Eu repetia todas as noites que ia dormir.
Mas eu ficava mais desesperada por você. Por ver você chegando. Por ver você cumprindo sua promessa.
"São só uns beijos, menina. Só uns beijos. Sem compromisso."
Eu queria compromisso!
Era isso que eu queria... Mesmo que fosse para me afastar... Mesmo que fosse para eu provar do amor mais um pouco, mais uma vez...
Como eu era má! Como eu sou má!
Não!
Não se pode ser má, e machucar um outro, se tudo o que ele quer é simplesmente ter um pouco de seus lábios, não de seu coração.
Mas eu estava tão desesperada... Tão desesperada por carinho, um carinho nos cabelos, um beijo na testa. Beijos que desenhassem todos os ângulos de meu rosto. Tão desesperada por braços cobrindo meu corpo, protegendo-me de tudo, e todos os outros. Dizendo "com ela não, ela é minha."
Minha linda... Ah, por quê você chamou-me de minha linda? Por quê me deixar tão obcecada? 
Por que eu tinha que me iludir tanto? Me machucar tanto...
Querer tanto...

Aventuras de uma escritora medieval. (Capítulo 3 - Parte 5)

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Quando saí do castelo, depois de ter ouvido mais gracejos no ouvido pelo Rei, depois de ter sido um pouco mais alisada por ele, lancei mil e uma desculpas para minha mãe.
Passei por Bernad chorando, e ele me seguiu até a casa. Derramei todas minhas lágrimas na camisa de Bernad, que acariciáva-me os cabelos e beijáva-me o rosto. Ele dizia que tudo bem, que não tinha sido culpa minha, mas tinha. Ele sabia que tinha. Eu podia ver no olhar dele a tristeza, a mesma tristeza que eu sentia quando me via traída. E então comecei a disparar desculpas para ele também. Desculpava ele e minha mãe, mas ele dizia que tudo bem. Que eu tinha feito forçadamente. Tinha sido ameaçada à morte.
Mas eu não aceitava.
Dormi nos braços de Bernad pedindo desculpas, com ele acariciando minhas costas nuas, pois o resto estava coberto pela coberta. Ele também não aceitava me ver nua antes do casamento, mesmo tendo me visto nua quando eu era pequena, e eu a ele. Ele somente se permitiu a segurar meu corpo coberto, e então deitar-me em minha cama, e ficar sentado do meu lado, com meu rosto jogado em seu ombro, chorando.
E em nenhum momento da noite ele soltou-me e foi para casa, deixando-me sozinha. Ele continuava lá , continuava com a mão em meus cabelos e a outra em minhas costas, e cuidando para que eu estivesse coberta o suficiente contra o frio.
- Eu te amo, Bernad. Desculpe... Desculpe por tudo, é tudo culpa minha, eu não devia ter feito aquilo, eu... - Chorei mais um pouco e pressionei o rosto ao peito dele. - Eu te amo tanto, Bernad... Eu só posso dizer obrigada e desculpas a você...
- Eu também te amo, Sophie. Não se preocupe com isso que meu amor por você não vai se dissipar por causa disso. Todo esse tempo eu amei você, e não vou parar agora. - Ele beijou minha testa, mas eu levantei o rosto e o beijei na boca. E ele não tentou desviar. Simplesmente aceitou meu beijo e devolveu com o seu. Dormi com os lábios tocando o pescoço dele, e ele dormiu ao meu lado na cama. Sem tirar as cobertas de cima de mim, sem ver nenhuma parte do meu corpo. Totalmente o contrário do que todos os malditos que eu havia um dia amado erradamente fizeram, sem pensar duas vezes.

Aventuras de uma escritora medieval. (Capítulo 3 - Parte 4)

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- Eu? Vossa Alteza mesmo proibiu as mulheres de saberem ler, como eu poderia saber?
- Sua mãe não era boba. Ela com certeza ensinou você a ler, querida. Aliás, ela precisava que alguém lêsse para ela nas noites de insônia... - O Rei sorriu e nesse momento eu soube que ele já conhecia minha mãe faz muito tempo. Mas não era possível, ela o odiava mais do que tudo... Abaixei os olhos pela primeira vez na presença dele, e ele simplesmente cabelos, e os soltou. levantou meu rosto, admirando-o. - Ah, sim. Eu conheço sua mãe muito bem. Seu pai era muito sortudo por ter uma mulher como ela na cama, mas ele não era o único... - Ele passou a mão pelos meus
- Como assim...?
- Uhum, Sophie, eu tinha ela em minhas mãos. Era apaixonado por ela... Ainda sou... Por quê acha que ela as vezes chegava tão cansada em casa e como acha que ela tinha tanto trabalho a fazer? Eu encomendava por ela poesias, e aumentava o preço se ela fosse comigo até a cama. Ela dizia para mim que fazia somente por sua filha, e aqui está ela. Sophie Stone... Igualzinha a sua mãe, sim... - Ele voltou a por as mãos em minha cintura e beijou meu pescoço. Não fiz nada.
A raiva e o medo, o ódio e a tristeza prencheram-me. Minha mãe fazia amor com aquele ridículo por minha causa, para poder cuidar de mim!
Peguei o pergaminho e o abri, afastando o Rei de mim.

"Nas noites obscuras, nas noites em que as estrelas brilhavam tanto que meu corpo parecia ser feito das mesmas, eu a encontrava.
A perfeição em corpo e em alma, a perfeição em fala e em palavras. Aquela era você, com seus olhos brilhantes como a lua. Seus olhos azuis e delicados, que brilhavam com a noite de modo que eu não podia te perder.
Como você era linda, meu amor, como eu a queria. Beijava seus lábios e seu corpo, até mesmo a sombra deles. Beijava-a como se fosse a última vez, como se um dia morte pudesse tirar-la de mim. E tirou.
Não sei dizer quantas lágrimas e juras de matança eu havia feito, mas eu as cumpri.
Ainda sinto o prazer de ver o sangue aos meus pés, ainda sinto o medo por tudo o que tinha feito. Meus olhos derramaram mais lágrimas ao os olhos de medo das mulheres e das crianças. Todos os homens que um dia haviam machucado-te estavam mortos, mas com eles não tinha conseguido-te devolta.
Nada mais a traria de volta, e o modo era esquecer-te. Esquecer-te como esquecemos a alegria no momento de tristeza. Esquercer-te para todo o sempre, até meu leito, quando poderia enfim encontrar-te."

Cada palavra ecoou como um feitiço sobre mim. O Rei sorriu e bateu palmas. - Magnífico! Lázaro é um grande escritor realmente... Captou muito bem o que eu queria...
- Como o senhor consegue?! Sorrir tanto vendo o corpo de minha mãe balançando ao vento enquanto eu choro?! - As lágrimas vieram ao meu rosto, e o Rei simplesmente pegou-me no colo e levou-me até o seu aposento.
Tentei ao máximo possível me soltar dele, mas ele me segurava com força e me jogou com um pouco de delicadeza em sua cama. Eu continuei chorando, e gritei quando ele começou a beijar todo meu corpo.
- Saia daqui! Deixe-me ir! Não sou minha mãe para entregar-me à você! - O empurrei, mas ele simplesmente riu e beijou minha orelha, e sussurrou:
- A não ser que queira morrer em uma forca como sua mãe por saber ler, é melhor se entregar aos meus gracejos, senhorita Sophie.
- Então me mate! Me mate que tudo será muito melhor para mim! Era o que mais desejo!
- Ah...- Ele riu e começou a tirar meu vestido. Começou pelas mangas e foi descendo-o. Lutei para impedí-lo, mas a minha força comparada a dele não era nada. - Acontece que seria um desperdício matá-la, antes de ter algumas noites de prazer com você, Sophie.
Ele acariciou meus braços, e terminou de tirar meu vestido.
Ele examinou cada detalhe de meu corpo nu, e começou a tirar as suas próprias vestes.
Eu não pude impedir de ver-lo sem roupas. Não pude impedir a mim mesma de examinar cada detalhe dele, e não pude impedir o fato de desejar realmente uma noite com um homem como aquele.
As cortinas avermelhadas e aveludadas estavam fechadas, impedindo o sol de entrar. Ele beijou todo meu corpo, como fazia com o cadáver de minha mãe, e beijou ainda mais especialmente meus peitos. As lágrimas pararm de descer, e eu cedi àquele encanto.
Cedi a tudo e me entreguei a ele.
Beijava os lábios dele do mesmo modo que ele beijava os meus, beijava todo o corpo dele, e apreciava os gracejos que ele fazia em todo meu corpo. Entrelacei as pernas nas dele, e ele segurou-me pela cintura. Continuava me beijando, enquanto brincava com minha língua e acariciava minhas costelas e depois minhas coxas.
Lembrei de todas as noites de amor que tive com homens. Homens ridículos, que partiam e quebravam meu coração. Mas eu os amava, naquelas situações. Nessa oportunidade, o único que sentia era repulsa e nojo, mas ao mesmo tempo prazer.

Aventuras de uma escritora medieval. (Capítulo 3 - Parte 3)

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- Pode sair, Liliane, quero conversar um pouco com a senhorita Stone. - Ele chamou com a mão alguém, ao mesmo tempo que Liliane saia, me encarando, com os olhos cheios de ódio. Aquilo não era nada bom. Quando voltei meus olhos para o Rei, ele tinha em suas mãos um vinho tinto. Tomou um gole e sorriu maliciosamente para mim. Enrubeci. Como ele era bonito, aquele desgraçado. - Então é a senhorita que trouxe o poema de Lázaro até mim?
- Sim, senhor. - Cruzei as mãos atrás de mim, e assenti com a cabeça. Tentei o máximo parecer submissa, mas minha mãe havia ensinado-me a não ser. - Aqui está. - Tirei o pergaminho de uma dobra em meu vestido, e um mordomo tirou-a de minha mão delicadamente, abaixando-se um pouco demais, olhando meus peitos. Lancei um olhar congelante a ele. Ele saiu tão rapidamente de perto de mim como chegou.
O Rei continuava olhando para mim, sorrindo de orelha à orelha. O mordomo entregou-lhe o pergaminho, e sem tirar os olhos de mim, o Rei o recebeu.
- Então, senhorita, é casada com Lázaro? - Ele abriu o pergaminho tão rapidamente que senti uma dor horrível de só imaginar que as palavras para minha mãe podiam ser rasgadas com mais um toque do Rei. Mas não foi assim.
- Não. - Ele levantou as sombrancelhas e o mordomo lançou-me um olhar de horror. Tinha esquecido-me. - Perdão. Não, senhor. Sou somente uma mensageira. Ele contratou-me para entregar suas encomendas, pois tem muito trabalho e não tem como entregar seus trabalhos pessoalmente.
- Ah, bem. É realmente uma pena para ele não ter a senhorita como esposa. Parece... Graciosa. - Ele sorriu mais ainda o sorriso malicioso e levantou do trono. Ele era alto, realmente alto. Do mesmo modo que Bernad. Uma capa vermelha aveludada deslizava atrás dele. O Rei chegou perto de mim, e, olhando nos meus olhos, pegou a minha mão. Senti vontade de retirar a minha mão fria da mão quente dele, e depois dar-le um tapa, mas eu não podia. Mordi minha língua para ficar quieta, mas  ele percebeu, dando uma risada forte. - O que houve, senhorita Stone? Como posso chamá-la, aliás? Como era mesmo seu nome? Sofia?
- Sophie... Senhor. - Levantei o queixo ainda mais, e ele apertou minha mão, conduzindo-me até a varanda.
Era realmente linda.
Estava cheia de flores, muitas orquídeas, de todas as cores. Bem no meio de todo aquele explendor estava uma mesa posta e duas cadeiras. Ele puxou uma delas e eu me forcei a sentar nela. Mas ele não se sentou. Em vez disso continuou em pé, admirando a vista. Levantei um pouco da cadeira para ter a mesma vista que ele, e pude perceber que ela dava para a praça principal, com a forca de minha mãe bem no meio. Quantos lugares ele tinha para admirá-la?
- Ela não é linda?
- Senhor?
- A moça na forca. Ela não é linda? - Ele sorriu e sentou-se à minha frente, e meu corpo começou a tremer. Ele era lindo e eu não podia negar isso. Que minha mãe me perdoasse, mas por um momento eu o desejei. Até lembrar de quem falávamos. Fiquei calada, fazendo que sim com a cabeça. Ele riu e levantou-se novamente, puxando-me pela mão e logo levando-me até onde a vista era melhor. - Quando ouvi seu sobrenome soube que era filha dela. Eu sinto muito. Foi realmente um desperdício, mas ela escrevia, e a senhorita sabe como isso é extremamente proibido aqui...
- Não sente nada. - As palavras saíram de minha boca e meu rosto ficou vermelho. Ele apertou minha mão com força e eu mordi a língua até sangrar. Mas o único que o Rei fez foi sorrir mais e mais. Ele passou o dedo por meus lábios de modo a ver uma gota de sangue. - Você é diferente. Age independentemente, diferente de todas as outras, que curvam-se diante minha cama o mais apressadas possível. - Ele levantou mais meu queixo e beijou minha boca, limpando o sangue com a língua.
Afastei-me dele e virei a cabeça, olhando com lágrimas nos olhos o corpo de minha mãe. Como eu odiava esse homem! Como ele era atraente demais para ser tão odiado!
- Perdão, mas eu devo ir. O senhor Roberts deve estar me esperando para mais uma encomenda. - Dei as costas para o Rei, mesmo todos dizendo que não se devia fazer isso. Que se dane!, pensei.
- Ah, Sophie. - A menção de meu nome me fez ficar com mais raiva, mas eu já tinha dito de mais. Fechei as mãos em punhos, mas ele as pegou, e pôs a mão em minha cintura. Tirou de um bolso o pergaminho, que eu não tinha notado, mas ele havia guardado antes, e sussurrou em meu ouvido. - Só peço que ouça as palavras que Lázaro escreveu à mim. Devem ser bonitas, já que são dedicadas para a sua mãe. Sabia que vocês duas são idênticas? - Ele levou a outra mão para minha cintura, depois de entregar-me o pergaminho. - Sei que a senhorita não sabe ler, mas eu adoraria que ouvisse todas as palavras com completa atenção. - A voz dele dominava minha cabeça, dominava com raiva, com ódio, com prazer. Ele levou as mãos para um pouco mais acima, e eu saí de seus braços, indo diretamente à sala do trono.
- Quem lerá, senhor? - Meu coração batia mais rápido, e minha cintura formigava com os toques dele. Maldito, maldito sedutor.
- Você mesma. - Ele riu e parou bem em minha frente, com o rosto a centímetros do meu. 

Aventuras de uma escritora medieval. (Capítulo 3 - Parte 2)

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- Parada aí, mocinha! - Uma lança dominou o meu olhar e fiquei vesga, vendo a ponta brilhante e bem afiada da besta. - O que veio fazer aqui no castelo?  - Levantei os olhos e encarei o soldado. Idiota, tinha que ameaçar assim até as damas indefesas? Sorri, um sorriso maldoso, mas com certeza aquela carinha bonitinha que ele tinha não conseguia notar a diferença. Como se eu fosse uma dama indefesa.
- Perdão, sou Sophie Stone, e estou aqui a favor do poeta Lázaro Roberts. O Rei encomendou por meio deste um poema, e vim entregar-lo em mãos do nobre. - Tornei meu sorriso calmo e sedutor, enquanto alisava meu vestido. Bem ali onde estava minha mão escondia-se uma faca.
- Oh, sim. Pode passar. - Ele assentiu com a cabeça. - Abram os portões! - Gritou, e logo o pesado portão que protegia o castelo foi levantado.
Passei por ele com o queixo erguido, com uma postura perfeita. O soldado deu um tapa em minha bunda e riu uma risada maliciosa. Fiquei vermelha de raiva, mas jurei ficar quieta. Tinhha guardado o rosto daquele homem muito bem em minha cabeça, e no dia que eu o enganasse para ir para minha cama, ele seria um homem morto sem prazer algum.
Entrei no castelo com a cabeça ainda erguida, e logo apertei a dobra do vestido aonde escondia a faca. Morto.
- Quem é você? - Uma mulher de cabelos loiros e olhos azuis claros (de longe nada parecidos com os meus, que pareciam banhados em leite), com uma veste vermelha de seda me parou no meio do caminho.
Nunca tinha me achado feia até ver ela. Os cabelos eram compridos, lisos, presos em um penteado complicado que devia ter durado muito tempo para se fazer, os olhos bem encontrados, pintados, e a boca vermelha. E, além de tudo, tinha o corpo bem definido por causa da roupa. Uma cintura fina, não tinha muito do busto, mas já era o suficiente para chamar atenção nos homens, e magra. Além de tudo magra.Eu era nada do lado dela. Com o vestido esfarrapado, com os cabelos curtos e ondulados, um corpo bonito, tudo bem, mas as minhas roupas não o deixavam atraente como ele de verdade era. Mas eu tinha mais busto, isso com certeza.
Fiquei vermelha. Notei que tinha perdido a fala e que parecia me importar com quem era a mais bonita. Para quem? Tirei isso de minha cabeça, concentrando-me no único motivo de estar ali: O poema dedicado à minha mãe.
- Hãn... Sou Sophie, senhorita. Vim a favor do poeta Láz...
- Ah, sim! Você. É a menina que trabalha para ele? Pensava que era mais bonita. - Ela espantou uma mosca invisivel no ar, com um ato surpreendentemente delicado. Meu rosto pálido devia estar muito vermelho. Como ela era feminina e eu... Eu era uma moleca que se fantasiava de homem! - Siga-me, ele já o espera.
Respirei fundo e a segui. Senti vontade de abaixar o rosto e escondê-lo enquanto ela estava perto de mim, mas não o fiz. Continuei com o nariz empinado, postura correta, examinando cada detalhe do castelo com minha eterna curiosidade. "Um dia você ainda morrerá com essa curiosidade toda, Sophie. Mas não posso impedir que seja assim..." Sorri ao lembrar do que minha mãe sempre dizia sobre a minha curiosidade. Realmente, eu um dia ia morrer por causa disso. Mas agora, o que eu queria era ficar do lado dela, e se para isso precisasse morrer, eu morreria.
- A senhorita Stone já chegou com sua encomenda, senhor. - A menina sorriu carinhosamente para o Rei. Deve ser a moça que trabalha com ele na cama., pensei. Só podia ser.
- Ah, ótimo. - O Rei tirou os olhos da janela, parando o olhar em mim. Um olhar assustado, um olhar de medo, como se tivesse visto um fantasma. Ele ficou calado, mas continuou me examinando. Perguntei-me o porquê daquilo tudo e lancei um olhar rápido para a janela pela qual ele tanto olhava. Ah, sim.
Lá estava o corpo de minha mãe. Tão bem cuidado... Doente, aquele rei era doente.

Nós, mulheres.

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Ter as palavras em sua boca é difícil. Conviver com as mesmas pior ainda, sabendo que tem o poder de machucar e matar, e ao mesmo tempo o poder de fazer com que alguém te ame sem você ter tido aquela intenção. Mas em realidade, se você aprende a manejá-las, se você aprende a amá-las e cuidá-las, elas farão o mesmo com você. Elas irão te proteger, irão beijar seus lábios como agradecimento por deixar que elas sejam livres.
Pode parecer difícil, afinal de fato é, mas as palavras do mesmo modo que são traiçoeiras e más, tem um coração mole e amam do mesmo modo que seu amo. Somos todos amos das palavras, mas depende tanto do modo que elas saem de sua boca e da intenção que elas querem chegar até a pessoa a quem você as dirigiu, que acabamos virando escravos delas também.
Mas não devemos nos preocupar com isso, pois se um mestre sabe seu ofício, sabe como ordenar com que ele o obedeça. E os poetas estão ali, como soldados, tranferindo as palavras por meio do papel e da voz grossa, falando de batalhas sangrentas, falando do mal, do ruim, são como gigantes, que por mais que sejam grandes e brutos, têm seus lados dóceis. 
E as poetizas estão aqui, como fadas, delicadas e belas, soprando com seus sussurros palavras de amor, e a dor que o mesmo trás. Palavras que parecem ser inocentes, palavras que falam da tristeza da mulher ao perder seu filho, mas entre linhas dessas tão comoventes servas da voz, aparece o coração frio de uma mulher, o coração que um dia foi despedaçado e sabe o que é sofrer.
Sim, realmente as poetizas são como fadas, que contém seus rostos delicados e sorrisos incandecentes, escondendo dores e a frieza de um ser. A maldade e as torturas que a mesma podia fazer com alguém, simplesmente para o bem de algo, alguém, ou até ela mesma.
Sim, somos frias, as mulheres. Mas somos frias de bom coração, somos anjos caídos querendo desesperadamente voltar ao céu, procurando desesperadamente uma saída. Somos frágeis como vidro, nosso coração mais ainda. Se nos deixam cair no chão uma vez, quebramos, e nos reconstítuimos, para depois ver as cicatrizes das rachaduras por todo o corpo, que a cola não conseguiu esconder. 
Sim, nós nunca esquecemos. Nós levamos certas lembranças até a morte. E o pior de tudo é que você não pode impedir isso. Nem você nem suas palavras, homem. Suas palavras de poeta não vencem nem enganam as minhas, minhas servas, minhas criadas, mas ao mesmo tempo minhas amas, minhas donas.
Eu sou feita de palavras, e quanto mais palavras eu vou libertando, outras mais me fortalecem, me ensinam. Eu sou feita de palavras de guerra, de amor, de dor, de frieza, de carinho, de maternidade, de traição.
Sim, nós somos mesmo como fadas.
Nós, poetizas. 
Nós, mulheres.

Aventuras de uma escritora medieval. (Capítulo 3)

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"Os teus beijos em seu corpo morto não a farão voltar a viver. Os teus beijos a faziam chorar lágrimas que viravam chuva no mundo dos mortos, faziam com que ela tremesse de repulsa. Queria mesmo isso para sua amada, querido? Queria mesmo a morte para a alcançá-la?"


Acordei com os membros doloridos, com o rosto cansado. Tinha ficado a noite escrevendo. Tinha notado que não conseguiria escrever aquilo sem riscar um pouco o papel, então cortei um pergaminho velho que usava para rascunhos e me pus a escrever. Duas horas riscando as palavras até encontrar as corretas.
Levantei da cama e penteei meus cabelos, enquanto re-lia o que havia escrito. Aquilo agradaria o Rei. Passei a mão pelos meus cabelos e depois por meu corpo nu. Dobrei com delicadeza o pergaminho e o fechei com o selo que tinha adotado como poetiza. Ou melhor, poeta. Todos acham que Sophie Stone era somente uma secretária, que o poeta Lázaro Roberts mandava para entregar seus trabalhos, já que era muito ocupado. Como as pessoas eram estúpidas em pensar isso.
Ri enquanto colocava meu vestido e prendia os meus cabelos. Arrumei a saia e olhei meu reflexo na água. Por mais que o Rei não merecesse meu respeito, eu devia estar bem apresentável quando aparecesse na frente do mesmo. Revirei os olhos, e fiz uma careta de nojo, relembrando dos beijos que ele dava em minha mãe, do modo que a alisava. Estremeci e chutei o balde mais perto. Estúpido, maldito, mil e uma maldições para "Vossa Alteza"!
Saí de casa cedo, sabendo que haveria alguém para me retardar. Sempre acontecia o mesmo, todas as vezes que necessitava chegar cedo em algum maldito lugar. E eu estava certa.
- Sophie! Sophie, bom dia, como vai? - Bernad correu até mim com os olhos cinzentos brilhando e com os braços abertos. Forcei-me a dar um sorriso. Ele nunca tinha feito nada à mim, só ter me amado por todo esse tempo e nunca ter desistido de mim. Bernad tinha a mesma idade que eu, 17 anos, e trabalhava com o pai como ferreiro. O que levava todo meu raciocínio para o corpo dele. Bernad e eu tinhamos vivido juntos por muito tempo, nossas mães eram e sempre foram amigas, de modo que eu o conhecia desde a infância. Quando ele tinha 10 anos tinha dito-me que era completamente apaixonado por mim. Na época eu tinha rido. O via somente como um amigo, e nada mais, mas agora eu me decepcionava por não ter aceitado o pedido de casamento que ele tinha dado-me aos 15 anos. Eu nunca tinha vontade de casar, e era realmente com essa idade que algumas meninas já tinha filhos de 3 anos. 
- O que você acha? Estou bem no máximo possível, Bernad. No máximo possível das situações. - O abracei e logo pus meu cabelo para trás. Ele me olhou com os olhos cheios de dor e tristeza.
- Também doeu pra mim. - Ele acariciou o meu cabelo, ainda me abraçando. - Eu sinto muito. - Bernad sussurrou no meu ouvido as palavras, com o tom de voz perfeito, grossa, mas não assustadora. A voz dele me encantava, a delicadeza dele me encatava. O rosto e o corpo dele me encatava. Ele é bom demais pra você, Sophie, fique quieta. O perdeu uma vez, o perdeu para sempre! , a voz da razão tomou conta da minha mente, mas eu deixei-me embalar nos braços dele e sentir os beijos no rosto que ele me dava. Por quê ele me amava tanto? Como ele conseguia amar alguém que o tinha deixado de lado no momento mais importante de toda a sua vida? 
As lágrimas correram pelo meu rosto, mas ele as secou com o dedo e beijou meus olhos. - Não precisa ficar assim. Eu estou aqui pra quando você precisar, sabe disso. E sua mãe está cuidando de você... - Mais uma vez a voz de anjo dele dominou meus sentidos, e eu levantei os olhos para examinar seus olhos. Mas eles estavam cobertos pelos cabelos loiros, que ele não se dava ao trabalho de cortar, mas mesmo assim continuavam curtos o suficiente. Examinei os braços bronzeados dele, os músculos, o corpo, tudo. 
- Obrigada! Eu não vou esquecer disso, Bernad... - Funguei e sequei as lágrimas. Arrumei meu cabelo e levantei os olhos, tendo o sorriso branco de Bernad em troca. Meu coração bateu mais forte e mais rápido. Como ele tinha se apaixonado por mim? - Eu tenho que ir, desculpe... Eu realmente queria ficar aqui com você, mas... - Interrompi minha fala, e fiquei vermelha. Não era para eu ter dito aquilo. - Hm... Bem, já vou indo, até mais.
Preparei-me pra correr, mas antes Bernad conseguiu puxar-me pelos braços e beijar minha boca. Fiquei mais vermelha ainda.
- Até mais. - O sorriso dele iluminou toda a manhã, e pela primeira vez me perguntei o que ele fazia acordado aquela hora bem na frente da minha casa. Meu corpo tremeu e sem dizer uma palavra, corri até o castelo.

Aventuras de uma escritora medieval. (Capítulo 2)

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"Quem é você, morte? Quem a fez viver para matar? Quem foi o tão convencido homem, que faria com que sua tão triste mãe troxeu-se a você à vida? Aquela que trás a morte, aquela que propriamente é. Aquela que um dia morreu por vingança de sua tão odiada filha, filha que tomou-lhe o lugar, e agora a fazia de serva. Você, morte, é um ser de escuridão, mesmo as vezes trazendo a luz. Você, morte, é somente um ser que me deixa sem alma, um ser que leva meus amores, e os deixa dormirem sonhando com minhas lágrimas..."


As lágrimas caíram no pergaminho e manchou a tinta das minhas palavras. Que se dane.
Não podia suportar a dor de ver aquela forca. Toda vez que passava para comprar algo no mercado, e quando ia trabalhar, tão cuidadosa com meu disfarce, via o corpo de minha mãe balançando ao vento. Maldito era aquele rei, que tanto gostava da dor dos parentes dos mortos ali pendurados. Ele os deixava em exposição, até que os corpos aprodecessem, o que levava uns 3 dias, para poder levarem eles até algum lugar na floresta e jogá-los sozinhos lá. Nenhum enterro que os deixasse com um pouco de calma. 
Por que com minha mãe era diferente? Já tinha-se passado 1 semana e seu corpo ainda exalava um perfurme de flores. O que tinham feito à minha mãe para que ela permanecesse tão inteira? O seu rosto estava limpo, as vestes tinham sido trocadas, e os cabelos penteados. Quem podia ter feito isso e por quê?
Diziam por aí, lavadeiras que sempre estavam fofocando, que era o próprio rei quem mandara conservá-la daquele modo. Diziam que a beleza de minha mãe era única, com os olhos azuis e os cabelos negros sedosos esvoaçando no ar. Diziam que o rei a admirava de seu trono, que continha uma janela específica direcionada para as forcas, justamente para ele sorrir quando se virasse e encontrasse os corpos dos mortos. Mas que agora ele somente usava para admirar o corpo de minha mãe, sua face, seus cabelos, seu corpo.
Naquela noite decidi ver se era realmente verdade. Prendi meus cabelos e pus o chapéu que usava para o esconder, passei um pouco de fuligem em meu rosto para o escurecer, e vesti minhas vestes de homem. Quando olhei meu corpo na água, que refletia não só a luz do luar mas sim a mim, fiquei impressionada em como eu parecia com ela. Os mesmos olhos azuis, o mesmo cabelo negro, mesmo que curto, o mesmo corpo magro e bem definido. Claro que aquelas roupas estufadas me deixavam mais forte, mas era a mesma cara de mulher. Como as pessoas conseguiam ser enganadas com aquilo?
Estremeci por causa do frio, e me dirigi até a praça central. As lavadeiras tinham dito que era a meia noite que o Rei ia visitar minha mãe, que ele a beijava e que passava a mão por todo seu corpo. Alguém apaixonado por uma pessoa morta. Mas que romantico, mas que estúpido. Cheguei à praça e me escondi atrás de uma vendinha já fechada. Esperei e ele realmente tinha ido.
Lá estava o Rei, vestindo suas roupas pomposas, beijando as mãos e os lábios de minha mãe. 
Eu o admirei por um longo tempo. Ele era realmente um homem bonito, mas de mau coração e de alma perturbada. Os olhos eram castanhos, os cabelos também. Era jovem, tinha uns 20 anos. Não tinha sido a muito tempo que tinha se tornado Rei. Com 18 anos ele já estava no trono, com a morte de seu pai, que, diziam as lavadeiras, o próprio filho havia causado. Tinha a barba bem feita, e tinha um corpo forte. Enrubeci. Ele estava ali, beijando os seios de minha mãe, uma mulher morta, que ele mesmo havia mandado matar, e eu estava pensando em como ele era atraente? Idiota, pensei, indo embora dali. Que ousadia. 
Mais lágrimas vieram ao meu rosto, quando lembrei a mim mesma que no dia seguinte eu teria que enviar ao rei uma encomenda que ele havia feito. Um poema de tristeza, misturado com amor e com vingança. Nem sequer tinha começado. Agora eu sabia para quem era o poema, para quem ele leria em voz baixa à meia noite.
Minha mãe tinha conquistado o coração de um rei e morreu sem saber. Será que sua alma se contorcia no mundo da morte com os toques de prazer que o Rei dava nela? Ou será que ela o apreciava e sorria, vendo que tinha um Rei em suas mãos mortas? Não. Ela sempre havia dito maus bocados sobre ele. Não, ela o odiava. 
Voltei para casa e joguei as roupas de homem fora. Deitei  na cama de palha, e cobri meu corpo nu com a coberta feita de pele de animais, os quais tinha caçado para fazê-las, quando ouvi minha mãe reclamando do frio.
Olhei para o céu e perguntei onde ela estaria. Ou se me ouvia chorar, implorando para que ela voltasse. A morte não a deixaria voltar, mas mesmo assim eu tentava a chamar, com as minhas mais belas palavras, do modo que minha mãe tinha me ensinado. Mas eu nunca tinha conseguido. Saí da cama e cobri meu corpo com o cobertor. Sentei na escrivaninha de minha mãe e peguei o melhor pergaminho que tinha ao meu lado. Mergulhei a pena na tinta e comecei a escrever. As lágrimas que eu queria deixar não caiam, e meu corpo tremia pela raiva e pela dor. Olhei para as estrelas e parei de escrever. Amanhã seria o dia em que meus sentimentos misturaríam-se com os do Rei, sem ele nem sequer notar.
PSSSSSS: Gente, desculpa. Nos últimos textos eu cometi grandes erros, mas não foi minha culpa, tava escrevendo no carro, numa estrada com umas mil lombadas (ridículo, no meio de uma montanha.), mas eu vou arrumar, quando perder a preguiça. Obrigada (:

Conto de fadas errante.

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Fugir de casa era fácil, quando se tinha alguém que se amava. Ir embora das dores e procurar algo que curasse as feridas. Aquilo era fácil.
Mas eu era tão jovem... Mas eu era tão inocente... E tudo o que queria era meu príncipe de olhos azuis, montade em seu cavalo branco. Mas o único que encontrei foi escuridão. Neblina, e mais cólera.
Maldade e mais maldosos.
Fugir de casa era fácil, quando não se conhecia o mundo lá fora, pois crer-se-ia que tudo era perfeito e bom, como nos contos de fadas, em que somente haveria uma bruxa tentando lhe envenenar com maças, com cortes, com maldições.
Mas em real, haviam mais bruxas e bruxos que fadas madrinhas e príncipes encantados.
Mas mesmo assim eu fugi de casa, mas mesmo assim eu continuei pelas sombras de minha mente, pelas sombras do meu verdadeiro eu, pelas máscaras do meu medo. E eu o procurei.
O procurei tanto e tanto, e não o encontrava de jeito nenhum. Corria e me escondia, de todos que tentavam me enganar, mas mesmo assim não chegava nenhum galã para me salvar em meu esconderijo, se apaixonar por mim e me beijar debaixo da chuva.
Aos poucos eu fui notando que aquilo não existia.
Aos poucos eu fui entendendo que devia ter ficado em casa, mesmo dizendo que fugir de casa era fácil, pois lá era difícil.
E um dia foi assim, o meu príncipe encatando chegou. Me salvou, me acolheu. Me deu proteção e carinho e depois foi embora, levando cosnigo os pedaços dos meus sonhos e do meu coração.
Mas eu era tão boba... Mas eu era tão apaixonada...
E corri novamente procurando por ele, um sonhos concreto que depois de um tempo havia fugido. E derramei todas minhas lágrimas, e vasculhei por todas minhas sombras. Porém ninguém nem nada se deixava encontrar, e fui consumida pelas sombras que um dia me serviram de refugio, tornando-se então meu carcel, minha prisão, meu calabouço...
E lá eu fiquei, esperando para ele voltar, esperando ele me encontrar, esperando ele me salvar. E eu esperei. Esperei. E esperei.
E sabe o que aconteceu?
Nada.
Ninguém chegou.
Ninguém me procurou.
E eu morri em meio as minhas sombras, com um sonhos despedaçado, com o meu último pensamento: E eles não viveram felizes para sempre. O para sempre não existe.

Aventuras de uma escritora medieval.

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E quando me pego perdida em meus pensamentos e devaneios, pergunto-me o que ainda faço aqui. O que esperava desses traidores que diziam me amar e ficariam comigo por toda minha maldita vida?
Mais dor?
Não!
Isso eles já haviam dado-me suficientemente, o sabor do veneno, quando tinha ido embora e quebrado promeças que tinha eu esquecido que eram somente palavras soltas no ar.
Como eu era ridícula! Estúpida, inacreditável! Sentir saudade de alguém e algo  que me causava tanta cólera! Minha mãe sempre havia avisado-me!
"Não confie em homens, eles só querem se aproveitar de você, lhe dizer juras de amor e depois ir embora, com cada pedaço do seu coração, deixando-a sem alma em troca de somente ausência em seu peito."
Ah, como aquelas palavras me perseguiam! Ser filha de uma poeta farsante em pura Idade Média era extremamente complicado. Dormir todas as noites vendo sua mãe na escrivaninha, ainda com roupas de homem, do mercado aonde se disfarçava para ganhar nosso ganha pão; com a pena tremendo em sua mão, com medo de os soldados invadirem nossa casa em uma de suas revistas e levar-la para a forca. 
Como algo tão ridículo podia ser levado tão a sério... Era proibido que mulheres soubessem ler e escrever nesse país mórbido. Era cosniderado algo deshonrado, e somente os homens podiam ter esse prazer. Mas mesmo assim minha mãe me ensinara a ler e escrever, e, mesmo sabendo que estava errada, me apaixonei pelas letras e a segui em seu ofício. Uma família de mulheres, mãe e filha, escritoras fantasiando-se de homens para ganhar algo para comer. 
Um dia eu acordei e busquei a sombra de minha mãe, ainda sentada na escrivaninha, olhando para o pergaminho amarelado que ela continha, com a pena movendo-se rapidamente, desenhando no papel sua letra delicada, fina e puxada para o lado.
E não fiquei surpresa quando não a encontrei lá. Fiquei desesperada.
Vesti meu vestido e sai correndo de casa, pelas ruas de paralelepípedos que machucavam meus pés descalços que nem tinha dado-me ao trabalho de por alguma proteção. Corri o mais rápido que podia até a praça principal, tropeçando no vestido que usava, os cabelos negros curtos (para facilitar no disfarce de homem)esvoaçando no ar, mesmo eu tendo que os prender, pois já estava grande de mais para usá-los soltos, podendo ser comparada com uma prostituta.
Dirigi meu corpo e minha mente para a praça, já sabendo o que iria encontrar. Minha mãe sendo executada, o pescoço envolvido em uma corda, as pessoas gritando, esperando anciosas pela execução. Bando de corações frios, era o que eles eram. Como amavam a morte pública e dolorosa. 
Como eu tinha certeza disso. Mas eu não tinha conseguido me preparar para a cena a tempo. Não conseguiria conter os sentimentos. Vi o corpo de minha mãe pendurado, balançando com o vento frio. Vi seu rosto sujo de esterco, verduras, vidros. 
E lá vieram elas: as malditas lágrimas. Lágrimas que eu somente derramava por amores ridículos e infantis. Mas lá estavam elas... E com elas e com minha mãe, mais um pedaço de meu coração tinha sido levado...

Beijos entorpecidos.

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O Sol beijou minhas costas nuas como havia feito por todo o meu corpo.
Ondas de prazer preencheram o meu corpo, e meus lábios retribuiram aos beijos doces, que carregavam rajadas de falsidade.
"Isso tudo é uma farsa" Eu fazia questão de lembrar-me. Mas os beijos do Sol me entorpeciam, queimando meus sentidos, e fiquei sem saber o que fazer ou sentir.
Vi-me entregada aos braços dele, vi-me desejando mais, muito mais do que eu realmente desejava, até mesmo com meu verdadeiro amado, até mesmo com meu doce amor.
Um desejo tão constante, que eu esperava por todas as noites, para poder o ver, para poder sentir o quente beijo do Sol. Para poder ter-lo comigo, dividindo o mesmo cômodo, só nós dois, somente nossos beijos enlouquecidos. E um pouco mais...
E era tão fácil notar que tudo aquilo,  os prazeres, os sorrisos, os olhares, as juras e os beijos; eram pura ilusão.
Mas aquilo me agradava, e eu podia que queria mais e mais. Queria provar da dopagem dos beijos do Sol, queria sentir o entorpecimento  do prazer. Queria acaraciar-le mais ainda o corpo quente dele, queria beijar mais ainda seus lábios e além disso. Queria poder tocar-lhe a pele sem me queimar, sem sentir a dor do fogo, mas sim aproveitá-lo.
E como era bom ver tudo aquilo se desenrolar em um quarto escuro, com ele sendo a única luz, e dizer a mim mesma com um sorriso: "Não é paixão."

Anjos dos Mortos - Micaela (fic)

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Aos olhos mareados,
o sorriso avermelhado.
Lágrimas decorativas,
 e marcas de batalhas.
Eram vidas cansativas, 
nunca determinadas.
Sonhos deixados para trás,
estrelas por ainda contar.
Nunca mais iria procurar por aquele rapaz,
sem antes mil lágrimas derramar.
Era estranho e absurdo,
demorado e doloroso.
Para a menina que vivia em outro mundo,
onde tudo era penoso.

Nem as rimas conseguiam acalmá-la. Já tinha tentado de tudo e a sua vida ainda estava confusa. Tinha desenhado tantos desenhos, que suas tintas já haviam se acabado, já tinha escrito tantos poemas, e rimas, que seu caderno já não tinha folhas.
Pobre Micaela.
Tentando de todos os modos humanos se reconfortar... Músicas, livros, televisão... Já tinha até mesmo pensar em dormir, se aquilo não lembrasse a ela o porquê de tanto dor.
Como sentia dor pela perda de seu pai. Como sentia saudade... Odiava aquilo. Odiava a palavra e a dor que ela parecia trazer quando era mencionada. Micaela sentia que já não aguentaria mais, sentia que seu coração se evaporava um pouquinho mais ao lembrar do sorridente rosto dele. Ao lembrar das piadas, ao lembrar dos abraços. Mas principalmente ao lembrar da proteção e carinho que ele dava.
Ele era realmente o único que dava tudo aquilo a ela, não era? Era o único que a amava incondicionalmente. O único que nunca tinha ido embora. O único que a protegia da dor que a mãe causava... A dor e uma cicatriz que nunca poderia ser esquecida, que estaria lá o tempo todo, nos momentos de felicidade e de tristeza.
Aonde estava ele agora, era o que ela realmente se perguntava. Não poderia se livrar da mãe de qualquer jeito, então que pelo menos ela soubesse como era a vida depois da morte, para se preparar.
Ela olhou para o céu, e ficou observando as estrelas. O teto de casa era mesmo um bom lugar para se ficar.
Esperou desesperadamente por um sinal.
Tão desesperada que até mesmo pareceu ter visto algo. Um risco pálido com negro nos céus. Não era uma estrela, nem  mesmo a escuridão da imensidão em si. Era alguém. E sem antes muito saber, era correto afirmar que Micaela tinha visto um anjo negro levando seu pai embora, fugindo com ele, para algum lugar seguro. Mas não o céu. E sim para o seu juízo final.

Desprovida.

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Eu: Tão cheia de nada!
Tão vazia da dor, mas tão vazia da felicidade.
Tão vazia do amor, mas tão vazia da inveja.
Tão vazia do bem, mas tão vazia do mal.
Tão vazia da ganância, mas tão vazia da humildade.
Estou vazia de tudo e cheia de nada.
Queria sentir, tocar e sorrir.
Queria poder entender o que é amar e o que é sentir dores de cólera.
Queria o bem e o mal para mim, queria provar dos dois lados.
Sou desprovida de todos os sentimentos, sou desprovida das lágrimas e dos sorrisos.
É estranho não sentir nada, não saber como reagir... É somente parecer agir daquele jeito, mas o sentimento não está no coração, mas sim na memória.
Como é estranho olhar para algo, sorrir, mas não ter nada com aquilo e não saber o porquê do sorriso. Sorrisos decorativos, tão decorativos que chegam a ser desgostosos de se admirar. 
Ver a rosa em minha frente, e não saber a sensação de receber as flores de alguém amado.
Imagine então, pensar que ama, mas não saber se é realmente aquilo, pois não é nada.
Como dói. Como essa dor é tão falsificada...
Como machuca. Como ela se cicatriza tão rapidamente...
E então você nota que é frio a ponto de parecer, e somente parecer, vivo.
Como dói... Como dói ser tão congelante por não sentir essa dor...

Dama das Cinzas.

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Os olhos dela brilhavam vermelhos como o fogo, os cabelos bruxuleavam como o mesmo.
Dama das cinzas, assim a chamavam.
Quebrava corações, com a beleza do corpo e da personalidade; deixava para trás amores, com um coração frio improvável para seu trabalho; deixava admiradores, e conquistadores. Ela era as vezes mais temida que as Damas Brancas, já que ela, por sua vez, trazia desgraça a vida do homem, enquanto as Damas Brancas simplesmente traziam a paz.
Diziam que todo homem que a tivesse, por ao menos uma noite, via o que era a perfeição no corpo de uma mulher. Na sedução e no olhar. No modo de mover-se e de falar.
Diziam que seu coração já tinha sido partido, e tinha sido punida por isso. Tola a menina, era o que as senhoras de casa diziam, que dormia com o grande rei Cosme, vindo da morte.
De amor ela entendia, da dor que ele trazia principalmente. Era elegante, e nunca quis ser uma saltimbanco. Mas olhe onde a mesma estava agora... O que o amor tinha feito com que ela pagasse, perdendo tudo o que tinha... 
Andava compassada, os passos delicados e ao mesmo tempo fortes e brutais.
O fogo a acompanhava. Cada parte de seu corpo era coberto pela labaredas alaranjadas, que lambiam seu corpo, mas não a machucavam. Os lábios soltando livremente palavras de fogo, que se tornavam apenas uma linda canção no ouvido da audiência.
Parecia uma boneca, e era cobiçada na cama por todos os homens, qual fosse a idade deles. Mas esses sabiam, que, uma noite com ela, era como ter o coração partido todos os  segundos de sua vida, novamente e novamente.
Equilibráva-se com um só pé, rodopiava, e fazia formas com o fogo que deixava qualquer criança fascinada. O sorriso iluminava todas as ruas da cidade, não importava quão tenebrosas e cobertas pela escuridão fossem.
Ah, aquela era ela. A Dama das Cinzas. 
A Dama das Cinzas, Dançarina do Fogo.
A Dama das Cinzas, Dançarina do fogo, a mais temida, a melhor em seu ofício, até mesmo antes de seu pai.
E quem mais poderia ser, além de Dedo Empoeirado?
Honrava tanto seu pai, depois de tanto ter-lo odiado. Era ela a verdadeira menina de quem ele deveria se orgulhar. Parecia inofenciva, mas seu nome fazia qualquer um mudar de opinião. A Dama das Cinzas... Cinzas que eram seu coração...
E agora, lá estava ela, dançando para todos, cantando para o fogo, orgulhando seu pai e continuando sua vida.
Vida que tivera desprezado por muito tempo, só por ter suas noites com o rei... Vida que agora ela tentava encontrar um caminho de depois da morte que ela mesma causara, a pior morte que se podia ter. A morte vivida todos os dias, pouco a pouco.
Ah, mas aquela era a Dama das Cinzas, e o que ela tinha feito consigo, faria com os outros... Egoísta, no final das contas. Mas para ela, era tão necessário quanto tudo...
Texto inspirado na personagem Brianna da trilogia "Mundo De Tinta"

Doce bonequinha.

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Mas lá vai ela, doce menina. Boneca em mãos, tão delicadinha.
Entrou na casa correndo, derrubou cadeiras e subiu para o quarto. Vejam só, a menina tão feliz, penteando os cabelos da bonequinha.
Sorriso de coração, lábios tão rosados. Olhos de botão, preto iluminado.
Cílios grandes, cabelos longos e castanhos,bochechas rosadas e pálida, a bonequinha, oh, tão querida.
O vestido estufadinho, vermelho e preto, com seus babadinhos.
Meias listradas, vermelho e preto, também, combinando com o vestido.
Quem imaginaria, que depois de tanto tempo, ela fosse ser deixada, sozinha na estante, ouvindo os insultos dos outros companheiros, dizendo que ela não era boa o suficiente, nem forte. Pobre bonequinha, deixada, esquecida.
Acordou para a vida, olhou em volta, os cabelos tão desgrenhados, já soltos e mal tratados. A roupa cheia de teias de aranha, a palidez virando cinza, sujeira por todo seu lindo rostinho.
Abriu os olhos, verdadeiros olhos. O sorriso foi trocado por uma careta triste, melancólica. Pobre bonequinha.
Acorde, disseram a ela, e a boba acordou.
Olhou em volta, mas como tudo estava diferente.
Levante-se, disseram a ela, e a boba levantou.
Não sabia como andar, com os sapatinhos de pano. Mas continuou. Desengonçadamente andou, passos curtos, com as pernas maiores que todo seu corpo. A cabeça caindo no pescocinho pequeno que só continha espuma.
Caia, disseram ela, e a boba caiu.
Caiu, caiu, caiu, caiu.
Lembrou de tudo, dos momentos que os sorrisos eram verdadeiros, em que era uma amiga, em vez de um simples pedaço de pano costurado.
Despencou no chão, mas tudo bem, só tinha tido um olho caído.
Com só o olho que lhe sobrara, o examinou, pegou-o com a mão fraca, e deixou-o cair, com o frio, com o medo. Ela não era aquilo que pensava?
Levantou-se, desajeitada. Os cabelos já cobrindo-lhe a cara, mas continuou...
Pare, disseram a ela, e a boba parou.
Escorregou, a doce bonequinha.
Sozinha ficou, debaixo da estante. Esquecida, novamente, porém nunca mais seria encontrada.
Durma, disseram a ela, e a boba dormiu.
Voltou ao seu sonho profundo, mas sua face nunca voltou a ser a mesma.
E um dia ainda, a menininha encontraria a bonequinha, sem olho, suja, sozinha, triste. E um dia, ainda, a menininha concertaria a doce boneca... Mas a bonequinha, que pena, nunca mais acordaria.

Como a bonequinha é de verdade: Feliz , Triste 
Ps: Desculpem pelos desenhos, fui eu que fiz, sei que estão feios.