#VemPraRua

0 comentários

Joguei a mochila por cima do ombro e cobri o nariz e a boca com o pano untado de vinagre. 
- Corre! Corre! - Minha mochila agitava-se, causando um peso desconfortável, mas suportável. Um conjunto de cartazes e pessoas gritando misturavam-se com o vapor dos gases lacrimogênios. A minha trilha sonora eram os gritos xingando os policiais de covardes, a cantiga descompassada pedindo por uma manifestação sem violência, os gritos pedindo por ajuda, pessoas que haviam sido atingidas por balas de borracha, pessoas lutando contra os efeitos.
A minha frente, uma pessoa filmava tudo. Ela gritava para os futuros espectadores o que realmente acontecia, o que a mídia não mostraria, e se mostrasse, transformaria em algo nulo. Eu estava no meio da gravação, e não pude negar um sorriso. Talvez não por pensar "mãe, estou na tela", mas sim por imaginar meus filhos apontando para o livro de história "mãe, você estava lá?". No meio do medo de ser atingida, de ser presa por uma causa injusta (ou devo dizer inexistente), de até mesmo morrer; eu sorria. Sorria porque eu estava fazendo a minha parte como cada um ali estava... Infelizmente, muitos diriam que aquilo era inútil. Não que fossem contra, mas estavam presos a uma história que havia muito acontecera, semelhante a que agora "repetíamos". 
Talvez eu ousasse dizer que, sim, estávamos repetindo o que começou a ditadura e terminou onde estávamos, mas algo dentro de mim dizia que seria diferente. Por mais que dissessem que éramos um povo burro e que só estávamos caindo na ladainha dos políticos, eu pelo menos diria que tinha tentado... Diria "eu errei por uma causa nobre", e os céticos me responderiam "antes uma causa desonrosa do que um levante estúpido", e eu sorriria e olharia para o além "onde você estava?". Simplesmente, sem me importar com os testemunhos seguidos. 
Refugiei-me junto aos outros, que agora sentavam-se no chão e estendiam seus cartazes. Músicas de uma época semelhante a esta estavam marcadas em letras pintadas de guache, nomes famosos como Chico Buarque, Cazuza, Renato Russo e tantos outros eram trazidos a tona para mostrar que por mais que esta fosse uma nova revolução, os laços de cultura e nação não eram tão fáceis largados. Éramos todos um só, unidos por uma única bandeira e um único objetivo: direitos. 
Direito a uma educação melhor (Futebol: Brasil 10 x 0 Japão; Educação: Brasil 0 x 1000 Japão), a infraestrutura na saúde (Quando seu filho estiver doente, leve-o ao estádio!), transporte público digno de seu preço elevado (Ash roubou minha bicicleta, preciso de um transporte público de QUALIDADE) e tantos outros absurdos que um povo não poderia mais suportar. 
O hino nacional era entoado por 1 mihão de vozes, com suas devidas adaptações (Entre outras mil és tu Brasil a mais roubada...). Pessoas de cores, religiões, culturas, origens diferentes, todas juntas com apenas um objetivo, cantando em apenas um tom... 
Gritávamos em nossas entrelinhas: nós não somos o futuro da nação. Nós somos A nação. 
E, não importa mais o que façam, nós acordamos. 

Branca de Neve. Capítulo 3- O espião.

3 comentários

Ela corria tão desajeitadamente que parecia estar correndo na água. Alguma força a puxava para mais perto de Endívia, e ela lutava contra a correnteza. Não podia ser pega, tinha que fugir. Todos os pressentimentos e sonhos agora eram tão compreensíveis e assustadores que sua alma não podia mais prender-se a um quarto absurdo. E tanto tempo em silêncio esperando por um milagre, com o poder nas garras de uma bruxa que podia falar com os objetos.
Sua mente insistia em dizer que nada daquilo existia, mas infelizmente em tudo indicava que aquilo era real. Não mais um sonho, não mais uma melodia que ecoava sem lembrar-se da letra: agora a realidade virava um pesadelo cruel.
Por que aquele espelho tinha a chamado de Princesa da Neve? Por que diabos ele fora logo dizer que ela estava ali? Que coração? Que herdeira?! Não poderia ser quem ela imaginava, coisas daquele tipo não aconteciam. Mulheres não ficavam presas em espelhos! O que Endívia tinha a ver com tudo aquilo? O que ela tinha a ver com a doença de seu pai? Teria ela o envenenado? Por que perguntar ao espelho se ela era a mais bela? Por tanto tempo não se convencera?!
Branca tropeçou ao chegar em seu quarto, mas conseguiu pegar o livro no chão. No alto de uma lareira, oposta à parede com a estante de livros, estava uma espada prateada pendurada. O punho era vermelho, com detalhes em pretos de flores, que tinham seus caules esculpidos na lâmina. Era bonito, mas não tinha-se tempo para admirá-lo. Podia ouvir Endívia chamando guardas para pegarem a "desordeira e traidora". 
A espada era pesada, mas com a bainha presa à cintura de Branca ela teria que suportar. Saiu do quarto e viu 10 guardas apontando para ela. "Para quê apontar e me encarar, venham logo!", virou para o lado oposto e se deparou com uma única janela.
- Merda! - Olhou para trás e os guardas já tinham tomado uma decisão de correrem atrás dela. - Merda, merda, merda!! - Ela subiu na beirada da janela e olhou para baixo. Era uma torre alta, e qualquer erro poderia simplesmente matá-la. O mesmo menino passava lentamente puxando a carroça de feno, ajudando seu velho avó.
Se atirou. Com um grito de desespero, implorava para ter calculado bem. 
- O QUE É ISSO?! - O menino gritou ao ouvir o baque e sentir o peso de uma pessoa caindo dentro de sua carroça. A cena de uma menina com cabelos longos, negros e ondulados, vestido azul e uma bainha com uma bela espada na cintura, segurando um livro não era normal para ele. 
- Desculpem-me. - Ela saltou da carroça e continuou correndo. Tropeçava no vestido e nas sapatilhas, então livrou-se delas. A dor das pedras sob seus pés era imensa, mas dava um ar de liberdade, mesmo imperceptível no meio do pânico. 
A sua frente o portão. Os muros do castelo estavam armados com arqueiros, que apontavam para ela, e esperavam pelo comando de ataque.
- PAREM, SEUS MARICAS! A RAINHA PRECISA DELA VIVA, TRAGAM-NA VIVA! - Um guarda gritou para os arqueiros enquanto o portão se fechava.
- Merda, merda...! - Ela mordeu o lábio inferior e desviou para a esquerda. Para onde iria? Como iria? Não sabia, ela precisava se esconder. 
Entrou em um beco e pressionou as costas na parede, escondida no escuro. Os guardas passaram correndo e gritando "por ali", enquanto Branca sentia seu coração aos pulos. Esperou todos passarem e adentrou mais no beco, batendo na porta de uma casa escondida pelos muros. 
Uma janela se abriu e olhos assustados encararam o que tanto parecia ser um fantasma, de tão branca que era a pele da princesa. 
- Quem é você?
- Branca de Neve.
- A princesa?! Não estão perseguindo-a?! 
- Sim, mas...
- Chamarei os guardas! Saia daqui, deixe-me em paz, praga!
- O quê?
- Saia daqui, sua demoninha desgraçada! - Ela ia fechar a janela quando Branca sacou sua espada e enfiou-a no espaço que faltava para que esta fosse fechada, quase tocando no rosto de sua "anfitriã". 
- Deixe-me entrar. - A visão da espada e a voz fria da princesa desmoralizou completamente a mulher. Ela abriu a porta hesitante, enquanto Branca guardava a espada. - Obrigada.
A casa era mal iluminada, mas Branca poderia andar por ali indo de todos os cômodos rapidamente. Pequena e com um cheiro terrível de queijo mofado, ela avistou um garoto de 15 anos sentado na cadeira enquanto tomava um gole de seu café. 
- Enrique. - Ela suspirou aliviada quando o garoto a olha e sorri, apontando para a cadeira em frente a dele.
- Oi, Branca. Sente-se. - A voz dele era encantadora. Para alguém de 15 anos era adulta, mas o tom grave e profundo era tão reconfortante que deixava Branca extasiada com a oportunidade de falar com ele mais uma vez. Seu único amigo. Seu único contato. Era ele quem lhe dava informações e lhe ensinava, secretamente. Era ele o filho do homem que tinha feito sua espada, e ele o menino que tinha instruído Branca a usá-la, como e quando. - Vejo que você está em problemas, mocinha.
Ela deu de ombros. 
- Um pouco. Preciso de sua ajuda, Enrique. Para sair daqui. - A mulher que tinha atendido a porta resmungou e entrou em um quarto pequeno, provavelmente para dormir. Branca seguiu os movimentos dela com o canto dos olhos, do modo como Enrique havia ensinado-a a espionar. Ela inclinou-se um pouco mais para perto de Enrique e sussurrou. - Qual o problema dela?
- Minha mãe? - Ele riu roucamente, e deixou o assunto para lá. Ele sabia que com apenas esse comentário Branca entenderia tudo. E entendeu. Entendeu porque tinha sido chamada de praga e demoninha. O pai de Enrique tinha batalhado bravamente na Guerra de Todos os Tempos, mas infelizmente morrera. Branca soube que a mulher dele não tinha se conformado, então todos os anos ia ao túmulo de seu pai e o desenterrava, esperando que o mesmo ressurgisse das cinzas. - Bem, eu sei como sair daqui, mas antes me conte como foi se meter nessa encrenca, bobalhona.
- Não me chame assim! Eu entrei no quarto real para pegar umas coisas... - Ela balançou as chaves no ar e a carta, que tinha guardado em um bolso que costurara nas dobras do vestido. Guardou-os novamente e encarou Enrique. - Mas Endívia entrou no quarto e tive que me esconder... Uma coisa estranha aconteceu, Enrique. Mas não vá rir de mim.
- Prometo. 
- Ela falou com um espelho. Ele tinha 2 metros de altura, e a imagem de uma mulher... Parecidíssima comigo! - Ela tocou a mão de Enrique, que a encarava sério. - E o espelho falou, Enrique! Disse que o tempo dele estava acabando e que Endívia deveria matar a "herdeira", a Princesa de Neve... E depois falou umas coisas estranhas, no final dizendo para eu sair do meu esconderijo! 
Silêncio. 
O crepitar do baixo fogo na casa era o único turbulento som. 
- Branca... - Ela o olhou com olhos cheios de expectativa, que logo foram desmanchados pela risada de Enrique. - Você está louca! Espelhos não falam! Perdeu a cabeça?!
- VOCÊ DISSE QUE NÃO IRIA RIR! - Branca levantou da cadeira, fazendo com que ela caísse no chão com um baque surdo. Arrumou sua roupa e estava por sair quando seu braço foi agarrado pela mão de Enrique.
- Pare de ser idiota! Eu irei ajudar você a fugir, mas antes tire isso da sua mente! Já cansei de ver você presa naquele castelo, mas esperava que viesse para cá por sua vontade! Mas além de vontade vem com loucuras e guardas por todo o reino procurando por você! - Ele a puxou para um abraço protetor por parte dele, desconfortável e duro para o gosto de Branca. A voz finalmente recuperou o baixo tom de sempre, calmo, enquanto ele acariciava os braços dela por cima da roupa. - Fique aqui por esta noite. Amanhã, quando o Sol nascer e quando eu sair para levar o feno para o velhote, levarei você comigo e então ajudarei com sua fuga.
- Você vai comigo?
- Não.
- Por quê? - Ela levantou os olhos azuis agora pesarosos. 
- Tenho que cuidar de minha mãe e trabalho a fazer. - Enrique afastou os cabelos da cara de Branca e acariciou a bochecha dela. - Tudo bem? - Ela fez que sim com a cabeça em meio a um suspiro, recebeu um beijo caloroso em troca. Não era a primeira vez que se beijavam, mas quando se beijavam era sempre convidativo a mais. Eram raras as vezes, também, então Branca tentava nunca perder as chances que tinha. O beijo foi retribuído e durou um longo tempo, levando-os para o quarto sem más intenções, parando por ali e compreendendo os limites de cada um. Deitaram na cama e passaram a noite acordados, sem um saber que o outro tinha sua mente tão cheia de tramas e problemas. 

Branca de Neve. Capítulo 2- O espelho mágico.

0 comentários

- Eu os declaro marido e mulher. - O padre fez o sinal da cruz e então fechou a Bíblia, observando o Rei e a  mais nova rainha, Endívia, que tinham seu casamento em particular. Branca de Neve estava em pé do lado direito da rainha, encarando-a com um temor sufocado. Segurava um buquê de rosas vermelhas, e vestia um  longo vestido cor de rosa. 
Endívia beijou o Rei e deu um largo sorriso, pegando rudemente o seu buquê das mãos de Branca. 
Ela tinha 7 anos quando isso aconteceu, e, ao encontrar o olhar com o de sua madrasta, pôde ouvir um coração lento e familiar bater ao som de uma cantiga nunca terminada.

- O que você está fazendo aqui?!
- Vim ver meu pai. - Branca levantou os olhos para encarar os de Endívia. A sensação de algo a estar vigiando sempre só podia ser por causa daquela mulher, que nunca envelhecia. Seus olhos vasculharam inutilmente um pouco mais fundo, tentando descobrir se ela era mesmo quem Branca de Neve suspeitava ser.
- Inutilmente. Seu pai está descansando! É melhor sair daqui, vamos. Vá ler alguma coisa no seu quarto, ou seja lá o que você faz por lá. Não me importa. - Endívia fechou a porta do quarto real rapidamente, e empurrou Branca de Neve com desgosto pelos ombros.
- Endívia, por quê você aumentou os impostos? - Uma pergunta rápida. Branca de Neve tinha 13 anos, e sabia de tudo o que acontecia no reino de seu pai. Sabia de cada morte, conhecia cada família. Nunca saíra do Castelo, mas sempre teve seus espiões dignos de confiança e caminhava por ele recolhendo boatos. 
- De quê te interessa? - Com um empurrão foi jogada no chão de seu quarto, e a porta foi fechada com um baque surdo. Ouviu a porta ser trancada e a chave ser entregue a um guarda que teve como dever vigiar Branca de Neve. 
Ela suspirou, levantando do chão e indo diretamente à sua janela. Abriu-a e pôde ver a miséria que seu povo estava passando. Uma criança empurrava uma carroça dolorosamente, tentando ajudar seu avô. Provavelmente o pai desta morreu na Guerra de Todos os Tempos, como foi chamada a duradoura guerra pelo amor de Lilian.
Fechou a janela e tentou imaginar algum bom futuro para aquele reinado. Seu pai estava doente, Endívia agora "governava", e esta parecia nunca sequer dar um indício de morte próxima. Esse pensamento fez com que Branca de Neve buscasse em sua estante o livro de capa vermelha. Quando o achou, pegou a bonequinha que estava ao lado dele, com cabelos penteados e um sorriso irreal. Lembrava-se bem daquele dia, mas ainda sim não conseguia acreditar que suas suspeitas estivessem certas. 
Abriu o livro em uma página marcada com uma rosa branca murcha. 
Em um sonho... Você dará o seu amor para mim? Implore para que o meu coração partido bata. Salve minha vida. Mude minha mente. -  Sentou-se em sua cama e acariciou os cabelos de sua boneca enquanto lia. - Se eu cair e tudo estiver perdido, sem uma luz para mostrar o caminho, lembre-se de que em total solidão é onde meu lugar se encontra. 
Ela olhou para cima.
É claro!
Jogou o livro no chão e correu até a porta.
- EI, DEIXE-ME SAIR! 
O guarda abriu uma pequena janela e observou os olhos de Branca de Neve.
- Perdoe-me, Branca, mas são ordens da rainha.
- Que a rainha se dane, seu bastardo. Deixe-me sair. Voltarei logo, ela nunca saberá que eu fui na cozinha. 
- Se quiser comer, senhorita, é só pedir que eu vou buscar algo para você...
- Não! Eu quero ir sozinha. Só eu sei fazer o que eu gosto. - Ela revirou os olhos e cruzou os braços. - Agora deixe-me sair! 
Hesitante, o guarda abriu a porta do quarto de Branca de Neve. Com passos delicados, mas rápidos, ela passou enigmática por ele, indo em direção a cozinha. No meio do caminho, certificando-se que não estava sendo seguida, desviou por um atalho até os aposentos reais. Ela sabia que Endívia não estava ouvindo o povo. Ela nunca ouvia. Com uma chave que tinha escondida na manga de seu vestido, abriu em silêncio a porta e entrou no quarto, deslizando até a cama. Observou seu pai dormindo, e abriu a gaveta do criado mudo. Seus olhos vasculharam tudo o que tinha lá, desde documentos antigos até chaves. Pegou o molho de chaves e uma carta com cheiro de rosas. O selo era minúsculo, mas tinha o formato de uma gota de sangue. Quem sabe até mesmo fosse. Estava se levantando para sair quando ouviu a porta ranger. 
- Merda. - Sussurrou e enfiou-se debaixo da cama. Seu coração bateu forte, e mais uma vez sentiu-se vigiada, como sempre se sentia ao estar no mesmo cômodo que Endívia. 
A rainha caminhou pelo quarto, o salto fazendo um barulho ensurdecedor, e então puxou um longo lençol.
Um espelho de 2 metros de altura foi exposto. Com moldura de ouro e diamantes, e o vidro completamente brilhante. 
- Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu? 
Um rosto começou a se formar na superfície do espelho. Não era o rosto de Endívia, mas sim o de Branca de Neve. Ou melhor: de Lilian. 
O rosto parecia pulsar que nem o coração que Endívia tinha nas mãos. Os olhos de uma Lilian velha e cansada vagaram pela sala, e outra resposta foi dada:
- Meu tempo se acaba. A magia não é duradoura como você imaginava. Meu coração pára de bater e logo sua juventude levará tudo consigo. Encontre um coração tão poderoso quanto o meu, possua-o e deixe-me ir. Logo de nada mais lhe serei útil. 
- O que você está dizendo?! - Endívia bateu o pé e Branca de Neve notou os olhos da mulher no espelho encarando-a. Ela sentia-se completamente atraída por aquele olhar, como se o conhecesse. Ela não sabia que era sua mãe, também seria difícil reconhecer pelos traços de uma doença incurável que preenchiam cada espaço da pele da Rainha da Neve.
- Estou dizendo, minha rainha, que deverá matar a minha herdeira. Meu coração nela bate e revive, mas o dela ainda é jovem e possui um destino a ser cumprido. Caso a Princesa da Neve note que seu tempo aqui é agora inútil, irá embora e procurará quem realmente lhe dará o que precisa. Tenha-a antes que isso aconteça, e não a subestimes. 
- Subestimá-la? É uma idiota fofoqueira. Eu a tenho em minhas mãos. Seu coração também. - Endívia revirou os olhos e pela primeira vez notou que não tinha tido sua pergunta respondida. - Agora diga-me: existe alguém mais bela do que eu?
O quarto ficou em silêncio. Branca de Neve tentava não fazer barulho, mas achava que sua respiração não colaborava. O espelho continuava encarando Branca de Neve, tendo uma conversa silenciosa com a menina. 
Por fim falou:
- Cabelos escuros como a noite, pele branca como a neve. Lábios vermelhos como o sangue, os olhos recitando uma baixa prece. Saia de seu esconderijo e fuja, minha doce, doce Branca de Neve. 

Branca de Neve. Capítulo 1- A profecia.

0 comentários

Era uma vez uma linda menina.
Tinha cabelos escuros como a noite, pele branca como a neve, lábios vermelhos como sangue. Seu nome era Branca de Neve, e muitos a reconheciam pela sua grande beleza. Filha do Rei de Hibéria, era a única herdeira ao trono. Seu pai era muito apaixonado pela sua mulher, mãe, obviamente, de Branca de Neve. 
Porém, um dia a rainha foi raptada pelo Rei de Montwaks para ser sua esposa. O pai de Branca de Neve teve um ataque de fúria, ódio e desprezo por sua mulher e pelo Rei, que tinha conseguido casar-se com Lilian, a rainha. Uma longa guerra sucedeu este acontecimento. Vidas foram desperdiçadas, de homens, mulheres e crianças, por causa dos ciúmes do Rei de Hibéria.
O auge daquela batalha foi em um monte, chamado Everest. Quinhentos soldados se encontraram para a batalha que por fim decidiria o vencedor de toda aquela atrocidade. Os homens estavam enfraquecidos, arrasados, alguns com braços quebrados e rostos desfigurados; mas de qualquer forma, foram à luta. 
Os reis se encaravam de forma mortal, com olhos sedentos por sangue. Mas o Rei de Montwaks tinha sua arma secreta: Lilian tinha sido levada para a batalha. Uma moça velha a acompanhava, corcunda, puxando-a pelos cabelos iguais aos de Branca de Neve. A rainha chorava e implorava por misericórdia. 
- E então, Dervan, o que irá fazer? - Próssigos, Rei de Montwaks, desafiou com um sorriso maldoso Dervan. - Cabelos como a noite, pele como a neve. - Ele desceu do cavalo, que balançou a crina observando os corpos ensaguentados em volta dele. - Lábios como o sangue, olhos recitando uma prece. - A velha, que não tinha sido notada por Dervan no começo, deu uma risada e segurou uma faca em frente ao coração de Lilian. - Dê-me seu coração, doce rainha da Neve. 
- NÃO! 
Um grito ecoou pelo monte Everest, e sangue manchou o chão. Com um puxão profissional, o coração da falecida rainha pulsava friamente nas mãos da velha.
- SEU MALDITO! - Dervan correu com a espada em punho, mas com um último sorriso Próssigos e a velha já tinham sumido. Agora era somente ele, os mortos, e seu coração despedaçado.

Enquanto isso, no Castelo, Branca de Neve brincava com uma boneca. Era igual a mãe, mas tinha um olhar frio e distante. Os olhos eram azuis, como safiras, perdidos em um tempo e espaço desconhecidos. Ela tinha 6 anos quando tudo isso aconteceu. Ela cantarolava uma música em silêncio, sobre como seu coração seria do príncipe que a teria, sobre como ela dormiria anos e anos somente para sonhar, sem medo, no céu e em seu destino. 
É claro que ela não sabia o que aquilo tudo significava. Ela lera em um livro, um livro com capa vermelha, fecho de ouro e folhas envelhecidas.
- Em um sonho... Você dará seu amor para mim? - Seus lábios moviam-se delicadamente enquanto penteava os cabelos loiros da boneca, e então sua cantiga foi interrompida por um eco surdo.
O coração da menina bateu forte, como se fosse explodir, e ela gritou da mesma forma que sua mãe estava gritando por piedade. Jogada ao chão, nossa querida Branca de Neve tinha lágrimas nos olhos, que encaravam cansados e amedrontados a moça de preto em sua frente: cabelos loiros, pele branca, olhos verdes cruéis. Jovem, encantadora. Porém tinha um sorriso frio e vingativo. Em suas mãos, um coração que batia lentamente, tentando sobreviver.
Ela caminhou até Branca de Neve e passou a mão em seus cabelos, deixando um rastro de sangue.
-Cabelos como a noite, pele como a neve. Lábios como o sangue, olhos recitando uma prece. Dê-me seu coração, querida, querida Branca de Neve. 

Você tem medo?

2 comentários


Sons tenebrosos cobriam a casa como se a chuva não trouxesse somente a solidão em nossos corações. Como se as árvores se movessem, como se os raios adentrassem em seu quarto pelas janelas, queimando sua alma, afugentando sua coragem, trazendo a tona tudo o que você mais teme. A fumaça do medo consome sua visão, consome seu coração e consome sua vida. A face inexistente, o desconhecido... O que poderia ser, além de um pouco mais do que histórias de terror mal contadas? Esta era a realidade.
O coração de tinta comido pela sombra volta a bater, gelatinoso e intolerante. Uma vibração, uma dor. Um toque frio, a Morte. Damos nome aos nossos segredos, ou é somente o desejo de esconder nossas tramas?
Meus membros temiam se mover, pois a qualquer passo meus ossos se quebrariam com um susto repentino. Estava presa em um mundo misterioso e impossível de se enxergar. Onde estava eu, afinal? Não podia me ouvir, pois o meu pesadelo gritava cantigas de ninar que me lembravam de coisas que eu já tinha perdido.
- Meu Deus, - Eu implorava - proteja-me. - Mas minha boca lacrada em linhas de aço impedia que minha voz gritasse e implorasse por alguém...
E, maldito seja aquele momento, que as lágrimas vieram e minha boca se libertou, em sangue e água, em breu e chuva. A vida fria, a visão curva. Impossível era sentir, impossível era implorar, mas eu podia compreender que já não havia mais existência para mim... Ele havia chegado, havia me possuído. Lá estava, ele a me levar...

Conclusões

0 comentários

Então é por isso que você não me ama - eu me ouvia sussurrar. - Por cada detalhe, cada diferença... Sou tragédia atrás de tragédia, sentindo só uma necessidade intensa de um amor não correspondido. Sou como a neve em um dia de sol, que não combina com o tempo e logo desmancha em água, que seca e vira nada. 

Então é por isso que você a quer - meu coração se apertava ao me entender balbuciar. - Por cada semelhança, e cada carinho. Por cada risada e cada compreensão... Ambos se completavam tão bem... Ela era o Sol, você o Mar. Ela era o caule, você a flor. Cada um se sustentava no outro... Isso era o que eu realmente queria ter.

Então é por isso que se chora - pude sentir as lágrimas descendo por meu rosto, e meu lábio inferior tremendo em um frio que ninguém iria afugentar. - Porque a dor de amar se junta ao fracasso. Fracasso por não ser o que se queria. Se junta a inveja. Inveja de ela ser. Se junta ao ciumes, à tristeza, se junta ao desejo e à uma fortaleza de cartas que com um simples sopro de "não" se cala e cai. Porque amar é uma arte, e nem todo mundo é artista.*

*Renato Russo

Fear Of The Dark - Part 1

2 comentários

When the darkness comes play with your heart, you need to be strong. When the first sunbeam caresses your face, you need to send it away. When the first bullet passes through your body, you need to just stop the pain and keep fighting. So, what we need do when a human hurts you? When it is a human that plays with your heart, when it is a human that caresses your face and then destroys you on the same night? 
My name is Katherine, and I used to hide in my shadows. But in a stupid day, I decided I knew more of the world that I was helping to destroy.
The war was hitting on all the windows. Bodies in the street were nothing compared to the screams of agony. Buildings and houses were on fire. And the Death was working really hard to take away all the souls.
I don’t need to say more. I was on the Second World War.
Hardly did the people see the sun these times. When the fire started, and the smoke covered their eyes, I was safe. Safe to left my refuge and finally satisfy my wishes.
In the middle of my way, passing by a lot of kids without their moms, or dads without wife, or moms without husbands, or no one; I saw Diego. Probably hunting for food, too. I rolled my eyes. I never liked him, and now I needed to share with him my food?
-What are you doing here? – I screamed. No need to worry about someone. Go there and tell what was happening to Lucius.
-Oh! Katherine! – He smiled and, in seconds, he was hugging me like he had never done before. – You’re so pretty today… Are you eating more than the appropriate? – Diego laughed, as he examined my hair. – Lucius is not going to like this…
-O.K., what do you want? – I slapped his hand and crossed my arms. – I don’t have food. I’m hungry, and for all this time I was hiding, as Lucius asked. And you? As for what I’m seeing here, you look really… pleased… Are you hiding something, Diego? - My mouth stretched into an abused smile.
-Look, Katherine. – Diego mimicked my smile. – Lucius doesn’t need know anything about us. I just want to eat a little more, like you and our entire race wants it too. So, you’d better shut up, and keep walking. I’ll go to the right, you will go to the left.
-Better than seeing your face again, pretty boy.
I really hate myself for saying that. I was never so wrong.

Obs: Essa história é completamente original minha, é para o projeto de inglês. Espero MESMO que eu tenha essa chance... Minha professora de inglês corrigiu para mim, então o texto está correto. Obrigada.