Branca de Neve. Capítulo 3- O espião.

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Ela corria tão desajeitadamente que parecia estar correndo na água. Alguma força a puxava para mais perto de Endívia, e ela lutava contra a correnteza. Não podia ser pega, tinha que fugir. Todos os pressentimentos e sonhos agora eram tão compreensíveis e assustadores que sua alma não podia mais prender-se a um quarto absurdo. E tanto tempo em silêncio esperando por um milagre, com o poder nas garras de uma bruxa que podia falar com os objetos.
Sua mente insistia em dizer que nada daquilo existia, mas infelizmente em tudo indicava que aquilo era real. Não mais um sonho, não mais uma melodia que ecoava sem lembrar-se da letra: agora a realidade virava um pesadelo cruel.
Por que aquele espelho tinha a chamado de Princesa da Neve? Por que diabos ele fora logo dizer que ela estava ali? Que coração? Que herdeira?! Não poderia ser quem ela imaginava, coisas daquele tipo não aconteciam. Mulheres não ficavam presas em espelhos! O que Endívia tinha a ver com tudo aquilo? O que ela tinha a ver com a doença de seu pai? Teria ela o envenenado? Por que perguntar ao espelho se ela era a mais bela? Por tanto tempo não se convencera?!
Branca tropeçou ao chegar em seu quarto, mas conseguiu pegar o livro no chão. No alto de uma lareira, oposta à parede com a estante de livros, estava uma espada prateada pendurada. O punho era vermelho, com detalhes em pretos de flores, que tinham seus caules esculpidos na lâmina. Era bonito, mas não tinha-se tempo para admirá-lo. Podia ouvir Endívia chamando guardas para pegarem a "desordeira e traidora". 
A espada era pesada, mas com a bainha presa à cintura de Branca ela teria que suportar. Saiu do quarto e viu 10 guardas apontando para ela. "Para quê apontar e me encarar, venham logo!", virou para o lado oposto e se deparou com uma única janela.
- Merda! - Olhou para trás e os guardas já tinham tomado uma decisão de correrem atrás dela. - Merda, merda, merda!! - Ela subiu na beirada da janela e olhou para baixo. Era uma torre alta, e qualquer erro poderia simplesmente matá-la. O mesmo menino passava lentamente puxando a carroça de feno, ajudando seu velho avó.
Se atirou. Com um grito de desespero, implorava para ter calculado bem. 
- O QUE É ISSO?! - O menino gritou ao ouvir o baque e sentir o peso de uma pessoa caindo dentro de sua carroça. A cena de uma menina com cabelos longos, negros e ondulados, vestido azul e uma bainha com uma bela espada na cintura, segurando um livro não era normal para ele. 
- Desculpem-me. - Ela saltou da carroça e continuou correndo. Tropeçava no vestido e nas sapatilhas, então livrou-se delas. A dor das pedras sob seus pés era imensa, mas dava um ar de liberdade, mesmo imperceptível no meio do pânico. 
A sua frente o portão. Os muros do castelo estavam armados com arqueiros, que apontavam para ela, e esperavam pelo comando de ataque.
- PAREM, SEUS MARICAS! A RAINHA PRECISA DELA VIVA, TRAGAM-NA VIVA! - Um guarda gritou para os arqueiros enquanto o portão se fechava.
- Merda, merda...! - Ela mordeu o lábio inferior e desviou para a esquerda. Para onde iria? Como iria? Não sabia, ela precisava se esconder. 
Entrou em um beco e pressionou as costas na parede, escondida no escuro. Os guardas passaram correndo e gritando "por ali", enquanto Branca sentia seu coração aos pulos. Esperou todos passarem e adentrou mais no beco, batendo na porta de uma casa escondida pelos muros. 
Uma janela se abriu e olhos assustados encararam o que tanto parecia ser um fantasma, de tão branca que era a pele da princesa. 
- Quem é você?
- Branca de Neve.
- A princesa?! Não estão perseguindo-a?! 
- Sim, mas...
- Chamarei os guardas! Saia daqui, deixe-me em paz, praga!
- O quê?
- Saia daqui, sua demoninha desgraçada! - Ela ia fechar a janela quando Branca sacou sua espada e enfiou-a no espaço que faltava para que esta fosse fechada, quase tocando no rosto de sua "anfitriã". 
- Deixe-me entrar. - A visão da espada e a voz fria da princesa desmoralizou completamente a mulher. Ela abriu a porta hesitante, enquanto Branca guardava a espada. - Obrigada.
A casa era mal iluminada, mas Branca poderia andar por ali indo de todos os cômodos rapidamente. Pequena e com um cheiro terrível de queijo mofado, ela avistou um garoto de 15 anos sentado na cadeira enquanto tomava um gole de seu café. 
- Enrique. - Ela suspirou aliviada quando o garoto a olha e sorri, apontando para a cadeira em frente a dele.
- Oi, Branca. Sente-se. - A voz dele era encantadora. Para alguém de 15 anos era adulta, mas o tom grave e profundo era tão reconfortante que deixava Branca extasiada com a oportunidade de falar com ele mais uma vez. Seu único amigo. Seu único contato. Era ele quem lhe dava informações e lhe ensinava, secretamente. Era ele o filho do homem que tinha feito sua espada, e ele o menino que tinha instruído Branca a usá-la, como e quando. - Vejo que você está em problemas, mocinha.
Ela deu de ombros. 
- Um pouco. Preciso de sua ajuda, Enrique. Para sair daqui. - A mulher que tinha atendido a porta resmungou e entrou em um quarto pequeno, provavelmente para dormir. Branca seguiu os movimentos dela com o canto dos olhos, do modo como Enrique havia ensinado-a a espionar. Ela inclinou-se um pouco mais para perto de Enrique e sussurrou. - Qual o problema dela?
- Minha mãe? - Ele riu roucamente, e deixou o assunto para lá. Ele sabia que com apenas esse comentário Branca entenderia tudo. E entendeu. Entendeu porque tinha sido chamada de praga e demoninha. O pai de Enrique tinha batalhado bravamente na Guerra de Todos os Tempos, mas infelizmente morrera. Branca soube que a mulher dele não tinha se conformado, então todos os anos ia ao túmulo de seu pai e o desenterrava, esperando que o mesmo ressurgisse das cinzas. - Bem, eu sei como sair daqui, mas antes me conte como foi se meter nessa encrenca, bobalhona.
- Não me chame assim! Eu entrei no quarto real para pegar umas coisas... - Ela balançou as chaves no ar e a carta, que tinha guardado em um bolso que costurara nas dobras do vestido. Guardou-os novamente e encarou Enrique. - Mas Endívia entrou no quarto e tive que me esconder... Uma coisa estranha aconteceu, Enrique. Mas não vá rir de mim.
- Prometo. 
- Ela falou com um espelho. Ele tinha 2 metros de altura, e a imagem de uma mulher... Parecidíssima comigo! - Ela tocou a mão de Enrique, que a encarava sério. - E o espelho falou, Enrique! Disse que o tempo dele estava acabando e que Endívia deveria matar a "herdeira", a Princesa de Neve... E depois falou umas coisas estranhas, no final dizendo para eu sair do meu esconderijo! 
Silêncio. 
O crepitar do baixo fogo na casa era o único turbulento som. 
- Branca... - Ela o olhou com olhos cheios de expectativa, que logo foram desmanchados pela risada de Enrique. - Você está louca! Espelhos não falam! Perdeu a cabeça?!
- VOCÊ DISSE QUE NÃO IRIA RIR! - Branca levantou da cadeira, fazendo com que ela caísse no chão com um baque surdo. Arrumou sua roupa e estava por sair quando seu braço foi agarrado pela mão de Enrique.
- Pare de ser idiota! Eu irei ajudar você a fugir, mas antes tire isso da sua mente! Já cansei de ver você presa naquele castelo, mas esperava que viesse para cá por sua vontade! Mas além de vontade vem com loucuras e guardas por todo o reino procurando por você! - Ele a puxou para um abraço protetor por parte dele, desconfortável e duro para o gosto de Branca. A voz finalmente recuperou o baixo tom de sempre, calmo, enquanto ele acariciava os braços dela por cima da roupa. - Fique aqui por esta noite. Amanhã, quando o Sol nascer e quando eu sair para levar o feno para o velhote, levarei você comigo e então ajudarei com sua fuga.
- Você vai comigo?
- Não.
- Por quê? - Ela levantou os olhos azuis agora pesarosos. 
- Tenho que cuidar de minha mãe e trabalho a fazer. - Enrique afastou os cabelos da cara de Branca e acariciou a bochecha dela. - Tudo bem? - Ela fez que sim com a cabeça em meio a um suspiro, recebeu um beijo caloroso em troca. Não era a primeira vez que se beijavam, mas quando se beijavam era sempre convidativo a mais. Eram raras as vezes, também, então Branca tentava nunca perder as chances que tinha. O beijo foi retribuído e durou um longo tempo, levando-os para o quarto sem más intenções, parando por ali e compreendendo os limites de cada um. Deitaram na cama e passaram a noite acordados, sem um saber que o outro tinha sua mente tão cheia de tramas e problemas. 

Branca de Neve. Capítulo 2- O espelho mágico.

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- Eu os declaro marido e mulher. - O padre fez o sinal da cruz e então fechou a Bíblia, observando o Rei e a  mais nova rainha, Endívia, que tinham seu casamento em particular. Branca de Neve estava em pé do lado direito da rainha, encarando-a com um temor sufocado. Segurava um buquê de rosas vermelhas, e vestia um  longo vestido cor de rosa. 
Endívia beijou o Rei e deu um largo sorriso, pegando rudemente o seu buquê das mãos de Branca. 
Ela tinha 7 anos quando isso aconteceu, e, ao encontrar o olhar com o de sua madrasta, pôde ouvir um coração lento e familiar bater ao som de uma cantiga nunca terminada.

- O que você está fazendo aqui?!
- Vim ver meu pai. - Branca levantou os olhos para encarar os de Endívia. A sensação de algo a estar vigiando sempre só podia ser por causa daquela mulher, que nunca envelhecia. Seus olhos vasculharam inutilmente um pouco mais fundo, tentando descobrir se ela era mesmo quem Branca de Neve suspeitava ser.
- Inutilmente. Seu pai está descansando! É melhor sair daqui, vamos. Vá ler alguma coisa no seu quarto, ou seja lá o que você faz por lá. Não me importa. - Endívia fechou a porta do quarto real rapidamente, e empurrou Branca de Neve com desgosto pelos ombros.
- Endívia, por quê você aumentou os impostos? - Uma pergunta rápida. Branca de Neve tinha 13 anos, e sabia de tudo o que acontecia no reino de seu pai. Sabia de cada morte, conhecia cada família. Nunca saíra do Castelo, mas sempre teve seus espiões dignos de confiança e caminhava por ele recolhendo boatos. 
- De quê te interessa? - Com um empurrão foi jogada no chão de seu quarto, e a porta foi fechada com um baque surdo. Ouviu a porta ser trancada e a chave ser entregue a um guarda que teve como dever vigiar Branca de Neve. 
Ela suspirou, levantando do chão e indo diretamente à sua janela. Abriu-a e pôde ver a miséria que seu povo estava passando. Uma criança empurrava uma carroça dolorosamente, tentando ajudar seu avô. Provavelmente o pai desta morreu na Guerra de Todos os Tempos, como foi chamada a duradoura guerra pelo amor de Lilian.
Fechou a janela e tentou imaginar algum bom futuro para aquele reinado. Seu pai estava doente, Endívia agora "governava", e esta parecia nunca sequer dar um indício de morte próxima. Esse pensamento fez com que Branca de Neve buscasse em sua estante o livro de capa vermelha. Quando o achou, pegou a bonequinha que estava ao lado dele, com cabelos penteados e um sorriso irreal. Lembrava-se bem daquele dia, mas ainda sim não conseguia acreditar que suas suspeitas estivessem certas. 
Abriu o livro em uma página marcada com uma rosa branca murcha. 
Em um sonho... Você dará o seu amor para mim? Implore para que o meu coração partido bata. Salve minha vida. Mude minha mente. -  Sentou-se em sua cama e acariciou os cabelos de sua boneca enquanto lia. - Se eu cair e tudo estiver perdido, sem uma luz para mostrar o caminho, lembre-se de que em total solidão é onde meu lugar se encontra. 
Ela olhou para cima.
É claro!
Jogou o livro no chão e correu até a porta.
- EI, DEIXE-ME SAIR! 
O guarda abriu uma pequena janela e observou os olhos de Branca de Neve.
- Perdoe-me, Branca, mas são ordens da rainha.
- Que a rainha se dane, seu bastardo. Deixe-me sair. Voltarei logo, ela nunca saberá que eu fui na cozinha. 
- Se quiser comer, senhorita, é só pedir que eu vou buscar algo para você...
- Não! Eu quero ir sozinha. Só eu sei fazer o que eu gosto. - Ela revirou os olhos e cruzou os braços. - Agora deixe-me sair! 
Hesitante, o guarda abriu a porta do quarto de Branca de Neve. Com passos delicados, mas rápidos, ela passou enigmática por ele, indo em direção a cozinha. No meio do caminho, certificando-se que não estava sendo seguida, desviou por um atalho até os aposentos reais. Ela sabia que Endívia não estava ouvindo o povo. Ela nunca ouvia. Com uma chave que tinha escondida na manga de seu vestido, abriu em silêncio a porta e entrou no quarto, deslizando até a cama. Observou seu pai dormindo, e abriu a gaveta do criado mudo. Seus olhos vasculharam tudo o que tinha lá, desde documentos antigos até chaves. Pegou o molho de chaves e uma carta com cheiro de rosas. O selo era minúsculo, mas tinha o formato de uma gota de sangue. Quem sabe até mesmo fosse. Estava se levantando para sair quando ouviu a porta ranger. 
- Merda. - Sussurrou e enfiou-se debaixo da cama. Seu coração bateu forte, e mais uma vez sentiu-se vigiada, como sempre se sentia ao estar no mesmo cômodo que Endívia. 
A rainha caminhou pelo quarto, o salto fazendo um barulho ensurdecedor, e então puxou um longo lençol.
Um espelho de 2 metros de altura foi exposto. Com moldura de ouro e diamantes, e o vidro completamente brilhante. 
- Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu? 
Um rosto começou a se formar na superfície do espelho. Não era o rosto de Endívia, mas sim o de Branca de Neve. Ou melhor: de Lilian. 
O rosto parecia pulsar que nem o coração que Endívia tinha nas mãos. Os olhos de uma Lilian velha e cansada vagaram pela sala, e outra resposta foi dada:
- Meu tempo se acaba. A magia não é duradoura como você imaginava. Meu coração pára de bater e logo sua juventude levará tudo consigo. Encontre um coração tão poderoso quanto o meu, possua-o e deixe-me ir. Logo de nada mais lhe serei útil. 
- O que você está dizendo?! - Endívia bateu o pé e Branca de Neve notou os olhos da mulher no espelho encarando-a. Ela sentia-se completamente atraída por aquele olhar, como se o conhecesse. Ela não sabia que era sua mãe, também seria difícil reconhecer pelos traços de uma doença incurável que preenchiam cada espaço da pele da Rainha da Neve.
- Estou dizendo, minha rainha, que deverá matar a minha herdeira. Meu coração nela bate e revive, mas o dela ainda é jovem e possui um destino a ser cumprido. Caso a Princesa da Neve note que seu tempo aqui é agora inútil, irá embora e procurará quem realmente lhe dará o que precisa. Tenha-a antes que isso aconteça, e não a subestimes. 
- Subestimá-la? É uma idiota fofoqueira. Eu a tenho em minhas mãos. Seu coração também. - Endívia revirou os olhos e pela primeira vez notou que não tinha tido sua pergunta respondida. - Agora diga-me: existe alguém mais bela do que eu?
O quarto ficou em silêncio. Branca de Neve tentava não fazer barulho, mas achava que sua respiração não colaborava. O espelho continuava encarando Branca de Neve, tendo uma conversa silenciosa com a menina. 
Por fim falou:
- Cabelos escuros como a noite, pele branca como a neve. Lábios vermelhos como o sangue, os olhos recitando uma baixa prece. Saia de seu esconderijo e fuja, minha doce, doce Branca de Neve. 

Branca de Neve. Capítulo 1- A profecia.

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Era uma vez uma linda menina.
Tinha cabelos escuros como a noite, pele branca como a neve, lábios vermelhos como sangue. Seu nome era Branca de Neve, e muitos a reconheciam pela sua grande beleza. Filha do Rei de Hibéria, era a única herdeira ao trono. Seu pai era muito apaixonado pela sua mulher, mãe, obviamente, de Branca de Neve. 
Porém, um dia a rainha foi raptada pelo Rei de Montwaks para ser sua esposa. O pai de Branca de Neve teve um ataque de fúria, ódio e desprezo por sua mulher e pelo Rei, que tinha conseguido casar-se com Lilian, a rainha. Uma longa guerra sucedeu este acontecimento. Vidas foram desperdiçadas, de homens, mulheres e crianças, por causa dos ciúmes do Rei de Hibéria.
O auge daquela batalha foi em um monte, chamado Everest. Quinhentos soldados se encontraram para a batalha que por fim decidiria o vencedor de toda aquela atrocidade. Os homens estavam enfraquecidos, arrasados, alguns com braços quebrados e rostos desfigurados; mas de qualquer forma, foram à luta. 
Os reis se encaravam de forma mortal, com olhos sedentos por sangue. Mas o Rei de Montwaks tinha sua arma secreta: Lilian tinha sido levada para a batalha. Uma moça velha a acompanhava, corcunda, puxando-a pelos cabelos iguais aos de Branca de Neve. A rainha chorava e implorava por misericórdia. 
- E então, Dervan, o que irá fazer? - Próssigos, Rei de Montwaks, desafiou com um sorriso maldoso Dervan. - Cabelos como a noite, pele como a neve. - Ele desceu do cavalo, que balançou a crina observando os corpos ensaguentados em volta dele. - Lábios como o sangue, olhos recitando uma prece. - A velha, que não tinha sido notada por Dervan no começo, deu uma risada e segurou uma faca em frente ao coração de Lilian. - Dê-me seu coração, doce rainha da Neve. 
- NÃO! 
Um grito ecoou pelo monte Everest, e sangue manchou o chão. Com um puxão profissional, o coração da falecida rainha pulsava friamente nas mãos da velha.
- SEU MALDITO! - Dervan correu com a espada em punho, mas com um último sorriso Próssigos e a velha já tinham sumido. Agora era somente ele, os mortos, e seu coração despedaçado.

Enquanto isso, no Castelo, Branca de Neve brincava com uma boneca. Era igual a mãe, mas tinha um olhar frio e distante. Os olhos eram azuis, como safiras, perdidos em um tempo e espaço desconhecidos. Ela tinha 6 anos quando tudo isso aconteceu. Ela cantarolava uma música em silêncio, sobre como seu coração seria do príncipe que a teria, sobre como ela dormiria anos e anos somente para sonhar, sem medo, no céu e em seu destino. 
É claro que ela não sabia o que aquilo tudo significava. Ela lera em um livro, um livro com capa vermelha, fecho de ouro e folhas envelhecidas.
- Em um sonho... Você dará seu amor para mim? - Seus lábios moviam-se delicadamente enquanto penteava os cabelos loiros da boneca, e então sua cantiga foi interrompida por um eco surdo.
O coração da menina bateu forte, como se fosse explodir, e ela gritou da mesma forma que sua mãe estava gritando por piedade. Jogada ao chão, nossa querida Branca de Neve tinha lágrimas nos olhos, que encaravam cansados e amedrontados a moça de preto em sua frente: cabelos loiros, pele branca, olhos verdes cruéis. Jovem, encantadora. Porém tinha um sorriso frio e vingativo. Em suas mãos, um coração que batia lentamente, tentando sobreviver.
Ela caminhou até Branca de Neve e passou a mão em seus cabelos, deixando um rastro de sangue.
-Cabelos como a noite, pele como a neve. Lábios como o sangue, olhos recitando uma prece. Dê-me seu coração, querida, querida Branca de Neve. 

Você tem medo?

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Sons tenebrosos cobriam a casa como se a chuva não trouxesse somente a solidão em nossos corações. Como se as árvores se movessem, como se os raios adentrassem em seu quarto pelas janelas, queimando sua alma, afugentando sua coragem, trazendo a tona tudo o que você mais teme. A fumaça do medo consome sua visão, consome seu coração e consome sua vida. A face inexistente, o desconhecido... O que poderia ser, além de um pouco mais do que histórias de terror mal contadas? Esta era a realidade.
O coração de tinta comido pela sombra volta a bater, gelatinoso e intolerante. Uma vibração, uma dor. Um toque frio, a Morte. Damos nome aos nossos segredos, ou é somente o desejo de esconder nossas tramas?
Meus membros temiam se mover, pois a qualquer passo meus ossos se quebrariam com um susto repentino. Estava presa em um mundo misterioso e impossível de se enxergar. Onde estava eu, afinal? Não podia me ouvir, pois o meu pesadelo gritava cantigas de ninar que me lembravam de coisas que eu já tinha perdido.
- Meu Deus, - Eu implorava - proteja-me. - Mas minha boca lacrada em linhas de aço impedia que minha voz gritasse e implorasse por alguém...
E, maldito seja aquele momento, que as lágrimas vieram e minha boca se libertou, em sangue e água, em breu e chuva. A vida fria, a visão curva. Impossível era sentir, impossível era implorar, mas eu podia compreender que já não havia mais existência para mim... Ele havia chegado, havia me possuído. Lá estava, ele a me levar...

Conclusões

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Então é por isso que você não me ama - eu me ouvia sussurrar. - Por cada detalhe, cada diferença... Sou tragédia atrás de tragédia, sentindo só uma necessidade intensa de um amor não correspondido. Sou como a neve em um dia de sol, que não combina com o tempo e logo desmancha em água, que seca e vira nada. 

Então é por isso que você a quer - meu coração se apertava ao me entender balbuciar. - Por cada semelhança, e cada carinho. Por cada risada e cada compreensão... Ambos se completavam tão bem... Ela era o Sol, você o Mar. Ela era o caule, você a flor. Cada um se sustentava no outro... Isso era o que eu realmente queria ter.

Então é por isso que se chora - pude sentir as lágrimas descendo por meu rosto, e meu lábio inferior tremendo em um frio que ninguém iria afugentar. - Porque a dor de amar se junta ao fracasso. Fracasso por não ser o que se queria. Se junta a inveja. Inveja de ela ser. Se junta ao ciumes, à tristeza, se junta ao desejo e à uma fortaleza de cartas que com um simples sopro de "não" se cala e cai. Porque amar é uma arte, e nem todo mundo é artista.*

*Renato Russo

Fear Of The Dark - Part 1

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When the darkness comes play with your heart, you need to be strong. When the first sunbeam caresses your face, you need to send it away. When the first bullet passes through your body, you need to just stop the pain and keep fighting. So, what we need do when a human hurts you? When it is a human that plays with your heart, when it is a human that caresses your face and then destroys you on the same night? 
My name is Katherine, and I used to hide in my shadows. But in a stupid day, I decided I knew more of the world that I was helping to destroy.
The war was hitting on all the windows. Bodies in the street were nothing compared to the screams of agony. Buildings and houses were on fire. And the Death was working really hard to take away all the souls.
I don’t need to say more. I was on the Second World War.
Hardly did the people see the sun these times. When the fire started, and the smoke covered their eyes, I was safe. Safe to left my refuge and finally satisfy my wishes.
In the middle of my way, passing by a lot of kids without their moms, or dads without wife, or moms without husbands, or no one; I saw Diego. Probably hunting for food, too. I rolled my eyes. I never liked him, and now I needed to share with him my food?
-What are you doing here? – I screamed. No need to worry about someone. Go there and tell what was happening to Lucius.
-Oh! Katherine! – He smiled and, in seconds, he was hugging me like he had never done before. – You’re so pretty today… Are you eating more than the appropriate? – Diego laughed, as he examined my hair. – Lucius is not going to like this…
-O.K., what do you want? – I slapped his hand and crossed my arms. – I don’t have food. I’m hungry, and for all this time I was hiding, as Lucius asked. And you? As for what I’m seeing here, you look really… pleased… Are you hiding something, Diego? - My mouth stretched into an abused smile.
-Look, Katherine. – Diego mimicked my smile. – Lucius doesn’t need know anything about us. I just want to eat a little more, like you and our entire race wants it too. So, you’d better shut up, and keep walking. I’ll go to the right, you will go to the left.
-Better than seeing your face again, pretty boy.
I really hate myself for saying that. I was never so wrong.

Obs: Essa história é completamente original minha, é para o projeto de inglês. Espero MESMO que eu tenha essa chance... Minha professora de inglês corrigiu para mim, então o texto está correto. Obrigada.

Resista.

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"Vou tomar banho" - É o que você diz.
Caminha pesadamente até o banheiro, sem os outros notarem seus ombros curvados.
Entra, fecha a porta. E admira seu reflexo no espelho. Suspira, e começa a tirar sua roupa.
Observa sua silhueta com o sutiã e a calcinha, ainda. Solta o cabelo, e deixa que ele caia em cascatas por seus ombros e costas. Suspira mais uma vez, está difícil respirar.
Tira o sutiã. Abaixa o olhar. Observa seus seios. Passa a mão pelo cabelo, passa por seu pescoço... Desenha todo seu corpo, acariciando seus ombros, apertando seus seios, fazendo curvas ao chegar em sua cintura. Tira a calcinha. E então entra no chuveiro.
O liga. 
Entra debaixo dele, a água gelada batendo em suas costas, lavando todas as impurezas... Você desaba no chão. 
Deixa as lágrimas caírem.
Todos os seus suspiros tornam-se soluços, mas não é preciso se preocupar. A água ainda está caindo forte, abafando todo o som, espancando suas costas, desenrolando seus cabelos, fazendo as lágrimas não aparecerem.
Você continua chorando... O que sua vida tinha se tornado? Uma farsa... Continua chorando, pensando em tudo de bom que você tem... Tentando ignorar sua dor insignificante e tentando convencer a si mesma de que sua vida é perfeita. Os insultos, as brigas... Aquilo não é nada... Você pensa nos que lutariam para ter tudo o que você tem... E se sente mais impura ainda... 
De repente, a água não consegue mais limpá-la. Você chora agora por sua ignorância...
"Querida, a dor é algo inevitável, mas o sofrimento?"
"Opcional..."
Vozes não conseguem a convencer... Somente a deixam pior.
Sentir dor, as vezes pensar em si... Não faz mal, minha querida. Chorar e deixar que a febre passe é somente sua maneira de suportar. Sorrir, você o faz tão bem. Tão lindo.
Deixe virar realidade...
Ignore os gritos, os machucados, e concentre-se no que te faz bem... Esqueça todos.
E ame aqueles que ainda te fazem sorrir verdadeiramente. 

E eu voltei (de novo)

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Para azar de vocês, meus amiguinhos e leitores (mentira, não tenho amiguinhos nem leitores), eu voltei!
O.k. Eu passei por um castigo (um?) e por um certo desinteresse quanto ao meu blog, já que eu fiquei completamente bloqueada e nada de bom acontecia comigo, ou ruim, para minha mente se iluminar e eu ter mais ideias para escrever.
E eu também tava estudando.
E OLHA, VALEU A PENA, PORQUE EU TIREI 10 NA PROVA DE MATEMÁTICA!!! (aplausos pra Tia Manu)
Enfim...
Mas eu voltei pra vocês. Muitas coisas aconteceram, que me levaram para um novo astral. Começando com minha professora de Português, que está mesmo me apoiando bastante sobre os meus textos, como melhorá-los e me explicando o cada um deles são... Tipo, contos, e essas coisas. É.
Depois meu professor substituto de inglês! Esse foi quem mais abriu portas para mim.
Ele disse que eu escrevia muito bem (o que eu acho ser mentira, porque eu realmente escrevo muito mal), e me convidou para um projeto que ele estava fazendo. O projeto consiste em escrevermos histórias, em inglês, obvio, que irão ser publicadas em um livro!
GENTE, IMAGINA ISSO! UMA HISTÓRIA MINHA PUBLICADA EM UM LIVRO!!!!
Ia ser simplesmente fantástico!
Mas como eu tenho completa certeza sobre isso, decidi voltar com meu blog. Sei lá, né? Se eu puder manter uma identidade. Claro que eu vou continuar tentando escrever meus livros, etc e tal. Mas se não der certo? Eu quero um nome, nem que seja pela internet. Quero MESMO ser escritora. Quero MESMO ser artista, atriz... Quero MESMO fazer o que eu quero, o que eu gosto... Quero que isso cresça, quero que eu cresça... 
E por isso estou aqui. Tentando crescer, aprender e melhorar!
E QUE VENHA 2012 COM TUDO, POIS MANUELA CATALINA ESTÁ PREPARADA!

Como você...

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Respire, meu amor... Fique calma... Conte até três, fique leve... Esconda-se na penumbra, se camufle com as sombras, fique escura, fique escura... Não sonhe, não ouse iludir-se. Estou aqui para entorpecer a dor que lhe cobre o coração, que a luz ainda não conseguiu curar. Não pense, não escute. Feche os olhos, por favor, não veja os sacrifícios que tive de fazer, para poder te salvar.
Saiba, meu amor, que eu sentirei raiva de mim por poder respirar sem você. Saiba, meu amor, que eu me sinto sozinho, saiba que eu preciso dos seus beijos para esquentar-me o corpo. Mas por enquanto você fica aqui, fria, deitada no jardim, coberta pelas flores, que um dia eu recolhi cuidadosamente, em homenagem à você.
Meu amor, por favor, lembre-se que eu não estou de luto por você, eu não deveria. Você não está morta, é somente um sonho eterno. Tente me convencer, que um dia você acordará, e novamente irá beijar meus lábios, umedecendo-os e os deixando leves.
Eu não vou esquecer de você, todas as noites voltarei para a mesma escuridão, e lá ficarei, a acariciar-lhe os cabelos, chamando-a de volta, esperando para me deitar ao seu lado, para te encontrar.
Mas como dói! Como machuca, como a solidão me consome aos poucos e faz com que eu perca as forças aos poucos. Como dói o fato de eu sentir, enquanto estás tão quieta em teu canto, com nenhum sonho, com nenhum pesadelo. Nos quais eu não vivo, aos quais eu nem sequer pertenço.
Quando essa barreira vai se destruir? Quando poderei segurar sua mão novamente? Eu não quero esperar muito tempo, mas não posso apressar as coisas... Deixe eu beijar seus lábios mais uma vez, não me deixe dormir sozinho.
Por mais que essa dor vicie, por mais que eu tenha ficado apaixonado por essa tortura todos os dias, por mais que eu não queira viver sem a sensação de vazio; você me ensinou que não posso esquecer. Por favor, você sabe, fique comigo, eu posso deixar esse vício ir. Por você, simplesmente por você...
Entenda, meu amor... Nunca fiquei de luto por você, querida... Pois eu estarei do seu lado, você só têm sonhos leves, o tempo passa rápido. Eu sei que quando eu chegar lá, você irá se lembrar, e correrá para mim, com suas plumas delicadas, e me levará para perto de você...

Inspirado nas músicas "Like You" e "Lithium" - Evanescence

Entendimento - Evanescence

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"Você guarda as respostas em sua própria mente
Conscientemente você as esqueceu
Essa é a forma como a mente humana funciona
Sempre que algo é muito desagradável
Ou muito vergonhoso para suportarmos
Nós rejeitamos isso
Nós apagamos isso da nossa memória
Mas a marca está sempre lá"

A dor que oprime você
O medo que cega você
Liberta a vida em mim

Em nossa vergonha mútua
Nós escondemos nossos olhos
Para cegá-los da verdade
Que descobre um caminho através de quem somos

Por favor, não tenha medo
Quando a escuridão desaparecer
O amanhecer quebrará o silêncio
Gritando em nossos corações

Meu amor por você ainda cresce
Isso eu faço por você
Pois eu tentei lutar contra a verdade
Pela última vez
"É esperado que tentemos ser reais
E quando vocês se sentem sozinhos
Vocês não estão juntos
E isso é real"

Não consigo limpar tudo
Não consigo desejar tudo
Não consigo chorar tudo
Não consigo rasgar tudo

Deitada ao seu lado
Ouvindo você respirar
A vida que flui dentro de você
Queima dentro de mim

Abrace-me e fale comigo
Sobre amor, sem um som
Diga que você vai superar isso
E eu morrerei por você

Não me afaste
Diga que você estará comigo
Porque eu sei que não posso
Suportar tudo isso sozinha
"Você não está sozinha, querida, nunca, nunca"

Não consigo lutar contra tudo
Não consigo esperar por tudo
Não consigo gritar tudo
Simplesmente não vai desaparecer

Não consigo chorar tudo
Não consigo esperar por tudo
Não consigo gritar tudo
Oh, até que vá embora
Oh, até que vá embora, sim, sim
"Mas a marca está sempre lá
Nada é realmente esquecido"

Deus, por favor não me odeie
Porque eu morrerei se você o fizer

...

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Acho que estou repetindo tudo. Tudo sempre a mesma frase: eu ando sonhando com você.
De olhos abertos.
Acho que ando cansada da dor, ando cansada de sentir sempre o mesmo, diversas vezes, igual, mas com pessoas diferentes.
Será que eu ainda não aprendi? Eu odeio essa minha burrice.
Eu peço por vingança, por mortes, mas eu só consigo matar a mim mesma, por dentro, tentando me convencer que um dia passa.
Até agora não adiantou muito. Até agora meus sorrisos ciumentos não fizeram a chama parar de queimar dentro de mim, consumindo-me lentamente, até que eu queime por fora também.
E dessa vez as lágrimas só vão fazer com que queime mais, com que doa mais, elas não aliviam.
Eu queria poder dizer que elas têm um gosto muito ruim. Queria poder confiar com um abraço amigo, mas eu sinto e sei que só ganharei um "pare de ser boba, vai estudar, você é nova de mais para isso."
Mas acontece que crianças amam, e elas se machucam mais por não saberem lidar com isso.
Eu sou uma criança, sou um bebê. Ainda estou crescendo, e tentando desabrochar. Mas ninguém me rega, ninguém me ajuda, ninguém me segura quando eu caio. Eu quero que alguém me segure, quero que alguém me regue.
Eu sofro calada, por medo. Já usaram tanto minhas palavras contra mim... Eu posso confiar em vocês? Isso dói, dói muito, eu sei que vocês sabem, eu só quero chorar num ombro amigo, que me ame igual, que me beije igual, que me queira igual.
Eu não revelo nada, por mais que perguntem. Um dia eu revelei, e não foi bom no outro dia. Eu chorei, porque machucou o que me disseram. Querem que eu me ame, mas fazem com que eu me odeie. Falam que eu sou bonita, mas me olham com nojo. Me chamam inteligente, mas reviram os olhos quando eu comento algo.
Eu tentei, por favor, eu sei que sou nova de mais, mas eu tentei superar. Só que depois de certo tempo, minha maturidade se esvai. Eu sinto vontade de cair, num lugar escuro, abraçar meus joelhos e molhar minha roupa com lágrimas.
E eu faço isso sozinha, com meu travesseiro sendo o único que escuto meus gemidos de dor.
Parem de falar que me conhecem, sem saber o que eu sinto. Parem de falar que é bobagem, pois eu nunca fui forte o suficiente. Eu sempre precisei de alguém para me segurar, eu não tenho equilíbrio pra andar nessa corda bamba confusa de mais para mim.
Eu sei que vocês querem me ajudar, as vezes, eu sinto que só as vezes, mas eu não posso mais confiar em vocês. Não mais nas palavras, nem em ninguém, nem nos sorrisos, nem em nada.
Eu quero ele aqui para me abraçar. Eu quero poder chamá-lo de melhor amigo, mesmo ele sendo meu amor eterno. Eu sei que sim. Eu pensei que esse amor tinha passado, mas um amor nunca se vai.
Mas essa distância que me impede, essas mentiras que eu tive que contar pra poder pelo menos ter contato com você. Eu não posso suportar o fato de eu ser fraca de mais para tudo isso... Não, eu não posso.
Eu sou, não sou?
Fraca.
Fraca de mais...
Por que eu ainda tento enganar vocês?
Vocês que conseguem ver quem eu sou, em casa linha, em cada vírgula... Em cata reticências que eu dou, esperando que algo melhore, e eu complete meu texto para se tornar um final feliz.

Nas mãos de Lúcifer.

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Corra, desgraçada, corra. Ele não a conhece, ele não a ama. Deixe-o arder nas chamas, deixe-o ser dilacerado. Morra, desgraçada, morra. Pois seu amor nunca serviu de nada. Deixe que Lúcifer te leve, deixei que ele sabe o que fazer contigo. 
Chore, boba, chore. Ninguém aqui vai te ouvir. Ninguém aqui vai te socorrer. Seus gritos são mudos, seus olhos são cegos. Lúcifer não a deixará ir. Sinta, criança, sinta. Sinta cada garra em sua pele, cortando-a levemente. Lembre-se, pergunte-se: por quê com ele criança? Por quê ele?
Sinta-se cada vez mais inútil! Note suas lágrimas evaporando-se no chão. Elas não servem de nada, elas não curam, elas são veneno. Lúcifer as usará, para envenenar o seu amado. E por mais que você chore e clame, por mais que peças misericórdia, ele somente sorrirá mostrando as presas, e cortará um pouco mais de você.
Fuja, criança, fuja. Tente, mas ele irá te encontrar. Ele sabe onde procurar, ele quer seu sangue, e ele o tem. Vamos, corra, tente viver, mas Lúcifer não deixará sua vida calma, pois agora você está morta e não tem como voltar.
Sua alma é dele, boba, sua alma é dele.
Agora ele poderá lhe despedaçar.
Chore, pode chorar. Suas lágrimas o atraem ainda mais, seus lábios rosados o deixam ainda mais excitado. Ele quer o mal, criança, ele quer você. Ainda não aprendeu isso com o seu amado? Corpo, é isso o que eles querem. Sentimentos não valem para nada! Somente os orgasmos e os gritos de dor os saciarão.
Esqueça, desgraçada, esqueça. Eles não vão se importar com as palavras que você disser. Eu te amo? Que boba! O amor na língua deles não está, ele se traduz em violência, em sangue, em morte. 
Isso, criança, isso! Pergunte-me como isso foi acontecer, sua tola! 
Você os chamou, você quis tudo isso. Você implorou por prazer, você implorou por vingança.
Você virou um sacrifício.
Agora ature, agora chore, grite, e veja-se nua na frente de Lúcifer. Ele beijará seu corpo, ele quer ouvir seus gemidos.
Acha que seu amado vai vir correndo para te salvar? Mal sabes que ele está assistindo a tudo isso, com um sorriso, esperando sua deixa para entrar e poder se saciar novamente.
Menina boba. Menina estúpida.
Não confie naqueles que uma vez já mentiram para você, garota. Eles são os primeiros que a mandarão para o inferno...

A imortalidade da Morte

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Eu vejo uma vida distinta, oculta, maravilhosa. Escondida na escuridão.
Para aqueles que sentem medo da morte, eu suplico que não a tema.
Pois com ela em troca vem-se a paz tão esperada pelos humanos, mortais queridos por Deus...
Enquanto a mim, que me cabe a imortalidade, somente posso ter o prazer de sonhar com esse paraíso, pois minha pele se apodrece, meus olhos param de ver, meus ouvidos de escutar, mas a minha fala nunca cessa.
E com ela eu disparo palavras de saúde, de amor, de felicidade, fertilidade, paz.
E meus olhos ainda podem chorar, lembrando-me de que nunca senti coisas do tipo...
Realmente, a morte tem seu lado ruim.
Com ela você se esquece dos sentimentos.
Acaba entorpecida e se vê desprovida deles, os seus preciosos sentimentos.
Não, não estou morta.
Eu sou a morte.
E estou sozinha.
Diferente daqueles que me cercam, e dormem sonhos ou pesadelos.
Estou cercada pelos meus súditos, mas eles não me amam pelo bem que eu fiz a eles.
Dormem deixando-me só, jogando-me maldições.
Mas não posso sentir raiva, não posso chorar sentindo o gosto de minhas lágrimas: minha imortalidade assim não o permite.

Não sou um conto de fadas...

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Eu já sonhei com nós dois juntos.
Sonhei que você caia, que eu ia embora, passos curtos e lentos, em direção à escuridão indefinida, que cobria meu rosto e minhas lágrimas.
Eu podia ouvir seus gritos... "Por favor, não me deixe aqui. Por favor, volte para mim. Por favor, eu necessito de você..."
Mas eu fiz com que eles se dissipassem, fiz com que eles obscurecessem em volta de mim, a ponto de eu ficar surda, e não poder mais o ouvir.
Sentia o gosto das lágrimas na boca, todas aquelas mentiras me cobrindo como uma armadura.
Eu podia ouvir o vão do precipício o devorando aos poucos, uma eternidade para você, um peso rápido para o monstro da morte.
Lembranças, eu sabia que elas passavam por sua mente, como passavam pela minha lembranças de desgosto, nas quais eu caia e você ria de minha cara, não importava o quanto eu suplicava.
Agora era minha vez de rir, mas em vez disso eu provava das lágrimas amargas. 
Um oceano inteiro saindo de meus olhos, um oceano inteiro guardado, brotando e caindo ao chão, junto com a chuva que cantava, vindo do céu púrpura.
E as gotas que desciam junto com minhas lágrimas cantavam... Histórias de amor impossível, de bestas medonhas, de beijos heroicos. Princesas sendo salvas, príncipes as tendo em seus braços.
Eu não sou uma princesa, nunca fui, nunca serei. Você sabia bem disso? Você também não é um príncipe de olhos azuis, você pode notar?
Os monstros pelos quais você dizia lutar não existiam, pois seu cavalo branco fugiu, deixando-o sozinho, na penumbra, tão vulnerável com uma espada quebrada. 
E a princesa que não existia, esperou. Esperou, e você não se preocupou com ela. Você voltou com a bruxa e riu, deixou-me sozinha naquela torre.
Eu não sou nenhuma princesa, você pode perceber? Não sou nenhuma beldade, eu sei que você sabe. Eu não sou o que todos querem, mas eu quero alguém como todos.
Eu não encantadora, eu não uso sapatinhos de cristal. Eu só quero lutar e curar com minhas lágrimas, e servir de bem para o mal.
Então, quando eu acordei desse sonho, com você ao meu lado, adormecido, com um sorriso no rosto, parecendo cansado, eu fui embora.
Você não é nenhum príncipe encantado, e eu não posso pedir por um. Eu não mereço.
Mas acontece, meu amor, que você não chega aos pés nem do bêbado no bar, enlouquecido com as músicas de mulheres nuas, que em todas as histórias têm...

Ficha para filha de Hades - Catelin Sofia-

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Califórnia. Como esse lugar me irritava. Era alegria de mais, era sol de mais. Por quê as pessoas não podiam fazer silêncio uma vez na vida? Isso confundia tudo em mim. Meus pensamentos, minhas táticas. E ainda tinha essa porcaria de família, que nunca me deixava em paz. Ah, mas tinha uma coisa que não me incomodava aqui. As mortes.
Um sorriso passava por meu rosto toda a vez que eu ouvia o som das sirenes da polícia. "Opa, alguém aí está indo pro inferno..."
Sim. Eu não sou do tipo que pense no céu, no paraíso. Ninguém merece isso. Por mais que a pessoa seja boa, por mais que ela aparente ser, pelo menos, sempre vai ter algo dentro dela que é grande o suficiente para ser levado ao inferno. Meu pensamento era assim, e não me importava quantas vezes me levassem para fora de aula por pensar desse modo. Por falar desse modo. Eu era uma das primeiras na minha lista com direito ao melhor lugar no fogo do inferno.
No total, eu já tinha ido para 5 reformatórios. Todos um completo fracasso. Por favor! Eles tentavam convencer delinquentes juvenis de que Deus existe. O que leva uma pessoa a matar e se dizer seguidor de Deus? Não os meninos que eu encarava todos os dias acinzentados naquelas salas.
Você deve estar se perguntando por quê eu fui parar num reformatório, não é? Bem, não foi grande coisa. Eu só tive um ataque de nervos (e raiva) e matei minha mãe. Acho que, na minha lista, ela foi uma das últimas que foi parar no fogo do inferno. Em um canto em que o fogo não queimasse, mas fosse aconchegante. Sim, eu tenho um pouco de coração! Matei ela por impulso, não por querer. Minhas únicas lágrimas derramadas foram por ela, quando o sangue da mesma encharcou meus sapatos e minha roupa. Quando vi o corpo estendido bem na minha frente. Ela tinha uma expressão muito assustada na hora. Como se ela temesse isso. Desde muito tempo.
Enfim, quando o resto da família descobriu, é claro que ficaram com medo, e me mandaram embora. Mas depois de todas as escolas pelas quais eu passei, voltei pra casa, e fiquei sem estudar. Virei dona de casa. Uma empregada. Que ridículo. Além de ser vigiada 24 horas por dia, por câmeras que tinha escondido por todos os lugares, e que ainda pensavam que eu não via (eu ainda sorria para elas, mostrando que era uma boa menina). Já tinha ficado cansada. Eu não queria mais matar ninguém. Se eu estava sendo possuída, como diziam os professores para mim, nos reformatórios, que se dane. Eu só queria fugir e pronto. Então eu fugi. Desliguei os alarmes, que eu sabia a senha de cor, e desliguei as câmeras. Saí desfilando e sorrindo como se eu fosse a Miss Simpatia, com a mochila pendurada nos ombros. Eu não queria nem saber pra onde eu iria ir. Só ia ir.
Depois de muitos dias vagando por um monte de cidades que eu não conhecia (e dando uns murros em uns safados que não sabiam calar a boca na hora em que eu mandava), eu perdi completamente o juízo e decidi seguir um carinha que andava estranho. Não pensei que ele soubesse que eu o estava seguindo, eu tinha anos de treino nisso, perseguir pessoas era um hobbie. Mas ele sabia, afinal. E me levou pro lugar mais estranho que eu já pudesse imaginar. Um acampamento. Onde eu não fui recebida de modo muito... agradável.

O vício da dor.

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Ligue o som. Ponha no máximo por favor.
Deixe que todos os instrumentos façam seu corpo flutuar, deixe que sua dor te consuma.
Tão incrível a capacidade do ser humano de aumentar a sua tristeza. É um vício. É uma droga. Por mais que seja dolorosa, ela é algo que é bom de se provar. Você se sente mais humano.
Depois de um dia ou dois, já está sucumbindo a isso. Suas forças se vão. Seus membros pesam. Sua mente pesa, sua alma pesa. Uma simples respiração te lembra daquilo tudo, e você quer fugir. Para bem longe dali, muito longe dali.
Então você chora, se joga no chão, e simplesmente implora. Implora por Deus que tudo passe, que as coisas melhorem, que você saia desse vício eterno.
Depois de um tempo, sem mais lágrimas, sem mais se contorcer, a música ecoa pelo quarto fechado e escuro. A respiração fica pesada, tudo parece silenciar-se para ouvi-lo entoar junto com a música. O órgão e os violinos fazem com que sua alma sinta-se leve, com que seus membros parem de pesar.
Suas lágrimas dançam mais uma vez por seu rosto, seguindo o ritmo do que escutam.
Elas vão limpando tudo por onde passam, mas nunca tiram o que tem em seu coração.
Cada pesar, cada soluço.
Nunca mais passará.
Todos os dias a mesma coisa. A mesma dor.
Os mesmos soluços.
As mesmas lágrimas.
As mesmas cãibras e os mesmos gritos.
A mesma música.
Os mesmos instrumentos.
De repente, você nota seu inimigo mortal, que lhe acompanha todos os dias, com a doce e sangrenta trilha sonora.
Machucando cada vez mais, lembrando da primeira vez com que saboreou o sabor da tristeza e se viciou.
Lembrando cada vez mais de como tudo foi um erro, de como agora a decepção faria parte de você.
Porque, por mais que você diga que esqueceu, realmente não é a verdade.
A música sempre estará lá, no canto mais obscuro de sua mente.
Tocando lenta e pausadamente, como se já estivesse com o disco riscado, mas mesmo assim com a música intacta, só um pouco mais velha.
Pois, meu amigo, nada é realmente esquecido.
O som, aquele que as vezes afaga seus cabelos dando consolo, será seu pior inimigo. 
O remédio do seu esquecimento.
O remédio de gosto doce que você repetia a dose todas as vezes... Até chegar a loucura.
Mas a loucura não é doce como o remédio pelo qual você exagerou.
Ela é amarga como as lágrimas que limparam o seu rosto, naquele dia fúnebre.

Mas é tudo um segredo...

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Sentei na pedra e observei a paisagem ao meu redor. Tudo tão branco... Frio, tudo tão frio.
As árvores sem folhas, com os galhos balançando pelo forte e congelante vento de inverno, que batia em meu rosto, deixando-o vermelho, e espantava os cabelos de minha face para poder receber mais algumas pancadas.
- Afinal, é tudo um segredo, não é? - Suspirei e comecei a estalar os dedos. Era uma mania horrível, mas eu não podia, ou melhor, não conseguia parar. - E daí se eu quebrar os dedos? Nem faria tanta importância... Eu não poderia tocar em você com ou sem eles, de qualquer forma... - Olhei para o céu, coberto pelas nuvens, mas que não estavam tão acinzentadas assim. Era um dia de inverno bonito... Por mais que doloroso.
Joguei-me na relva coberta pela neve, e passei a mão pelo meu casaco.
Sozinha. As vezes era melhor assim... Sem ninguém para se apegar. Sem ninguém para fazer com que acreditasse em mentiras. Sem ninguém que machucasse você.
Mas as vezes podia ser ruim. Ruim pelo fato de que, quando alguém chegasse, você estaria tão desesperada por uma voz, um abraço, que acreditaria em qualquer coisa, sem nunca saber como eram as reações de uma mentira.
- É... Deve ser melhor se machucar uma vez e aprender, do que se machucar muitas vezes e nunca entender porquê. - Olhei para o lado e vi uma flor. Uma última flor, congelando, com as pétalas desesperadas, implorando por calor. Ser a última doía mesmo...
A arranquei do chão, sentando-me e observando cada detalhe da florzinha inocente. Estava branca, tingida e misturada com a neve. Beijei com os lábios já vermelhos de tanto frio as pétalas da flor. Acariciei com a ponta do dedo e deixei que uma lágrima caísse sobre ela.
- Eu te envergonho tanto assim, para ser tudo segredo? - Levantei os olhos para o céu, tentando impedir as outras lágrimas. - E... e eu sou tão idiota por chorar toda vez que penso que você tem vergonha de segurar minha mão? E-eu só queria que alguém me amasse de verdade... Queria que alguém cuidasse de mim... - Passei os dedos secando as lágrimas que desceram teimosas por meu rosto, e não pude mais conter minha voz. Solucei, deixando que as lágrimas banhassem a flor que eu pressiona com tanta força no peito. Deixava que ela ficasse mais fria, e que meu rosto sentisse mais dor com o vento que o espancava.
Já não tinha nenhuma palavra, nenhuma frase que espantasse ou então chamasse minha dor de volta. Só haviam lágrimas... Que iam embora, mas não levavam nada....
- Por que tem tanta vergonha de mim? Eu nunca fiz nada pra te deixar assim... E-eu... Eu só queria o seu amor... E... E... E nada. Não ganhei nada... Mas eu também não merecia, né? - Minhas lágrimas dançaram em volta do sorriso sem jeito que dei, do sorriso sem vida. - Não mereço nada... Nada, nada... Nunca mereceria... Não, nunca...
E então começou a nevar.
Os meus cabelos foram ficando brancos, minhas lágrimas foram ficando mais geladas do que já estavam, minhas mãos foram ficando vermelhas, e meu corpo não conseguia resistir mais ao frio.
- É... Os segredos não deveriam existir, não é? Como meu amor por você... Ele é um segredo... Simplesmente não deveria existir.

Pedido à Deus.

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Eu não tenho mais ninguém para amar, restou-me somente você para mim.
Você e suas mentiras que me machucam mais e mais, e eu ainda deixo que as lágrimas corram por meu rosto.
Ele estava realmente certo...  Estou muito nova para amar. Muito nova pra entender que meus amores nunca vão continuar onde eu quero que continuem, nem como. E eu desejo  todos os males para você, males que deiixam-me saciada por um momento, com os gritos que eu imagino vindos de você. Mas ao mesmo tempo eu não quero me saciar com eles.
Esqueça, Manuela, esqueça eles como eles esqueceram de você. Jogue-os no chão e deixe que se quebrem, como se fossem brinquedinhos, que nem eles fizeram com você. 
Mas eu não consigo. Pois por mais que eu os odeie, eu ainda os amo. Ainda quero o bem deles mesmo que eles tenham deixado-me tão mal.
E então eu assumo que foi culpa minha, pois eu me deixei fazer-se de idiota. E eu não queria, mas deixei. Deixei por causa dessa porcaria de amor, que dizem curar feridas, mas na verdade é a coisa que mais as causa.
Você disse que eu era apaixonada, e você confuso. Mas eu não quero mais fazer esse papel. Esse papel machuca e dói. Esse papel mata. Já quero mudar de personagem, mas Deus não deixa.
Ele me diz que está escrevendo meu destido torto em linhas retas, é o que eu ouço em meu ouvido, todas as noites que vou dormir, sussurros vindos do além.
Eu me pergunto o que tão errado eu fiz para ter esse destino. Já perguntei a Ele, mas o mesmo não me responde. Já implorei para que eles acertasse qualquer palavra, que a escrevesse na linha, com a caligrafia bonita.
O que aconteceu foi que minha mente foi se apagando, e meu eu foi se perdendo.
Eu só vivia das lágrimas. 
E eu perguntava novamente a Deus por quê ele escrevia meu destino em um caderno tão bonito, mas com uma letra tão feia. Perguntei também o que eu podia fazer, o que Ele podia falar, para as pessoas, para que elas notassem que eu não sou nada. Que por mais que minha presença na vida delas seja tão inútil e insignificante, eu podia ter algo de bom em tudo isso.
Mas outra pessoa me respondeu que não tinha.
Outra pessoa sussurrou em meu ouvido que eu só trazia mal, e que todos mentiam para mim. Que eu era ridícula, mórbida. E eu acreditei.
Os pesadelos cobriram meus sonhos, nuvens cinzas num céu tão azul. Tudo ficou mais difícil de se ver com a chuva que caia, que depois de acordar eu notei que eram minhas lágrimas. 
Lágrimas tão salgadas, tão cheias de dor... Nem chorando a minha angústia ia embora, e eu só queria que tudo melhorasse. 
Deus, eu disse, por favor, escreva pelo menos a palavra família em boa caligrafia no meu caderno do destino. Faça que pelo menos isso melhore e minha dor seja somente por uma coisa ridícula chamada amor, dor na qual eu posso simplesmente sorrir e esquecê-la, pois se os outros conseguem eu também posso tentar.
Mas eu não o que aconteceu... Ele não me ouviu... E de novo aquela voz veio assombrar-me os sonhos. 
Notei que tudo estava perdido...

O último suspiro.

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"- Não... Você não está cuidando de mim... Está me protegendo... - A menina sorriu, com a voz arrastada, a garganta jorrando sangue, com o vermelho saindo de sua boca. E morreu em seus braços."


As lágrimas rolaram pelo rosto de Anelys. Por que sempre terminavam assim, os amores? Doces amores...
Ah, como ela odiava esses livros... Como ela precisava deles!
Cada palavra, cada frase. Cada história contada em pequenos parágrafos, que juntavam-se e formavam uma vida. Eram como drogas.
Ela as odiava. Faziam mal. Mas mesmo assim ela necessitava delas. De cada uma delas. De todas elas.
Seus sentimentos eram meramente conduzidos pelas histórias. Sua humanidade, pelas palavras.
Ela era feita delas. Não de verdade. Mas sim, sua alma.
Seu alimento eram cada letra, cada acento. Ávidamente devorando livros e mais livros. Sem pensar nas consequências.
Deixava todos de lados, ela não se importava. Tinha amigos ricos, amigos pobres, amigos bonitos, amigos apaixonados. Tinha personagens. Tinha seres que não eram reais, mas sim saiam da cabeça humana e criavam vida em sua mente, criavam laços familiares, criavam laços de amor.
Ahh, sim. Ela os amava.
Cada um deles.
Cada parte deles, ela os conhecia. Cada fio de cabelo, sabia dizer o comprimento, sabia dizer a cor. Sabia como eles se sentiriam, o que falariam. Era fissurada. Totalmente fissurada neles.
Seu amor podia ser definido por palavras que tinham sido dedicadas para outra pessoa. Seu ódio, também. Sua dor. Sua felicidade.
Tão independente das emoções dos seres inanimados.
Sendo que devia ser totalmente ao contrário.
Eles precisariam dela para viver. Para sentir. Para poder continuar vivos.
Mas ela dependia deles para seguir em frente e esquecer o mundo em sua volta.
O mal que reinava nos livros, esses ela poderia derrotar. Sempre derrotava.
Mas agora?!
Não!
Aquilo mudara, quando a menina morrera nas mãos de seu amado amigo. Tão corajoso e tão apaixonado! Como ela odiava tudo aquilo!
Que tipo de humano era aquele, que matava e esquartejava todos os bons, e deixava que o mal pairasse no seu cruel mundo? Que tipo de escritor era esse?!
Anelys fechou o livro e o jogou no chão do quarto. Era tarde da noite. As velas iluminavam o local, junto com o fogo da lareira. Ela abraçou as pernas e cobriu os ombros com o cobertor, olhando para todos os lados.
Sozinha. Ela estava sozinha.
Seu mundo tinha desmoronado quando a menina tinha se afogado em seu próprio sangue.
As lágrimas dançaram ainda mais por seu rosto, e os dedos ficaram gelados. Nada mais estava normal em sua vida. Sozinha. Nunca ela estivera sozinha, sempre tendo um livro debaixo de seu braço. Mas agora ela tinha o lançado no chão, junto com o final doloroso que ele tinha reservado.
Sim, aquele era o final.
A última frase.
O último suspiro.

Por que?

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O que sentir? Chorar? Rir? Fingir força quando na verdade tudo o que eu quero é desmoronar diante de tudo e todos, dizer tudo o que eu penso, fugir e nunca mais voltar?
As palavras machucam, e machucam tanto...
Estejam elas lá para lembrar-me de alguém, de algo... De que você foi embora, deixando-me jogada como um brinquedo já velho. Sem graça. 
Trocada.
Substituída.
Nunca amada.
Vejo todos tão... bem. Rindo, rindo do mundo. Rindo de suas boas vidas, rindo de seus bons amores. Rindo, todos rindo. Como se rissem de mim, que só sabia ser enganada, e nunca provara de um amor longo e verdadeiro. Um amor que não machucasse, um amor que somente fizesse com que eu derramasse lágrimas de felicidade.
Não lágrimas de tristeza... Maldita tristeza.
Maldito coração.
Maldita mente.
Maldito pensamento.
Maldito amor.
Nunca soube o que era receber um beijo. Nunca fui beijada. Nunca soube a sensação de tocar os lábios de alguém, e sentir uma onde de paixão tomando seu corpo, tomando sua mente. Deixando você sem atos, entorpecida, ligada somente aquela pessoa em sua frente, que lhe acariciava com a boca.
Mas eu sei tão bem como definir isso. Tão bem como alguém deve se sentir. Como devia ser, perfeitamente.
Os sonhos têm seus toques de verdade. Quantas vezes sonhei com eu e você juntos? Nos amando? Nos querendo? Sendo um em dois? 
Tantas...
Mas aquilo não é verdade. Talvez a única verdade que tivesse lá fosse... Fosse bem, meu amor por você. Meu tolo amor por você...
NUNCA NADA DÁ CERTO!
Por que?! Por que eu nunca posso ter um amor verdadeiro? Alguém que cuide de mim? Alguém que queira realmente meu bem, e não um brinquedinho?! 
POR QUE TODOS MENTEM PARA MIM?
É tão engraçado assim me ver sofrer? Eu não quero fazer parte dessa apresentação! 
Isso dói tanto... Mas tanto... Por que me fazer chorar? O que ganharão com isso?
...
Por que ir embora?

Uma imagem de vários modos, puro Levados Pelo Vento!

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Eu não resisti, ok, eu admito u.u
Acontece que quando eu vi essa imagem, eu simplesmente pensei "Isso é a cara do levados pelo vento, mas não daria pra por como banner principal..." 
Fiquei com pena, e então editei de um monte de jeitos a imagem. E eu gostei muito, ha.
Eu sei que o meu blog é só pros meus textos, mas eu tenho que postar a imagem (e seus derivados)! Espero que gostem, e se não gostarem, tudo bem. Comentem, e se não comentarem, poxa. (Ninguém lê meu blog mesmo, quem é que vai comentar?)





EU SEI QUE É A MESMA COISA, MAS AINDA SIM É DIFERENTE, OK? OK.

Catelin Sofia (Post chalé 20 -Hécate- )

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Entrei no meu respectivo chalé um tanto quanto curiosa. Fazia muito tempo que minha curiosidade não aflorava desse modo. Olhei para Safya, que enrolava-se em meu pescoço com os olhos amarelados vasculhando todo o chalé. Parecia infinito! Mas era tão silencioso que eu imaginava poder ouvir todos os pensamentos de Safya.
O salão principal já era, em si, colossal. O chão parecia tão frio e duro, tão forte e indestrutível, mas em realidade era quente e macio. Dócil. Sensível. Exatamente como eu, que sempre tentava passar as impressões erradas.
Passei pelo salão tocando em tudo, olhando por baixo de todas as mesas, vendo por trás de todas as colunas, movendo e recolocando tudo no seu lugar. Curiosidade. "Desde quando, Catelin? Desde quando você não se sentia assim, por não querer parecer desconfiada?" Safya sibilou e desceu por meu corpo, deslizando pelo chão negro, sobressaltando-se com as cores vivas que seu corpo tinha.
- Muito tempo. - Respondi com os olhos cravados em uma carta escrita em letras complicadas douradas. "Você tinha 5 anos, Catelin? Sim, 5 anos você tinha..." - Quando eu te encontrei. Eu podia ter morrido picada por você, mas você não me picou. Por quê? - "Eu senti que você era especial, minha querida."
Abri a carta e meus olhos leram as palavras, mas meu pensamento somente concentrava-se na voz sibilante de Safya. - Pois sentiu errado. Não sou especial coisa nenhuma...
"Leia a carta, Catelin, Ser filha dela não é ser especial?"
Mais uma vez meus olhos leram o que tinha ali escrito, e meu cérebro o acompanhou.

“ Bem vindos meus filhos e minhas filhas, criei este chalé exatamente para vocês, mas ainda não esta completamente construído... Espero que gostem! “.
- Ainda existem mais... Eu com certeza não serei boa como eles. Vamos só esperar, e eu tenho certeza que isso acontece...
Safya ficou calada, e agradeci tanto por isso que me apressei por ir logo ao meu quarto. Deixei a carta em seu lugar e procurei por alguma escada, ou um corredor com uma plaquinha indicando "quartos por aqui". Não foi muito difícil encontrar aquela enorme escada. Dourada e enorme. Chamativo de mais para mim. Arrumei a saia do meu uniforme escolar e soltei um palavrão. Odiava aquele uniforme. O quanto mais rápido eu pudesse trocar aquela roupa, melhor. Mas com o quê? Eu não tinha levado nada... "Bem, quem sabe eu faça aparecer com a força do pensamento, ou sei lá..."
Subi as escadas correndo, uma mania que eu não tinha perdido. Ficava cansada quando eu as subia devagar, mas quando eu corria por elas meu corpo parecia ser leve e livre, sem derramar nenhuma gota de suor, ou ficar arfando no final da corrida.
Dirigi-me direto para o espaço feminino, esperando cores douradas e prateadas, como no salão principal, mas na verdade tinha me deparado com um mundo cor de rosa mais escuro. Dei meia volta nos calcanhares e abri a porta para o dormitório masculino. Azul e negro. Minhas cores preferidas. Agora sim estava melhorando. "Não vai ficar aqui, vai?" Safya encarou-me desgostosa. "Você é uma dama, deve ficar na parte feminina."
- Não vou, seja eu uma dama ou seja lá o quê. Você sabe que eu odeio rosa, e eu não vou ficar na parte feminina só porquê você quer. Aliás, eu não sou a unica por aqui, por enquanto? Posso ficar onde eu quiser. Esse lugar todo é quase meu. Meu e seu.
Joguei minha mochila em uma cama e examinei todos os cantos do dormitório. Era... Legal. - Bom, vamos ver o que mais tem lá embaixo. - Saí correndo, com Safya reclamando em meu ouvido, sobre ser feminina e começar a me comportar como uma dama. Revirei os olhos, mas continuei quieta. Só porque eu não gostava de usar saia e da cor rosa, não significa que eu não fosse feminina. " Ah! Mas eu darei um jeito em você, mocinha." - Não vai mesmo. - Sorri e escorreguei pelo corrimão da escada, com a saia minúscula da escola mal cobrindo minhas coxas.
Vaguei por áreas de treinamento, áreas de lazer, e tentei abrir mil e uma portas que estavam trancadas. Tirei um grampo do meu cabelo e tentei arrombar as portas, como eu sempre fazia na escola ou na casa das outras pessoas, mas eu havia me esquecido que tudo ali era feito por magia, e se as portas estavam trancadas, eu dificilmente abriria elas se não que por magia. Chutei a porta. - Droga! - Junto com o olhar crítico de Safya, de dentro da porta veio um rugido. Encarei ela e fui me afastando rapidamente do corredor. - Hãn, mas quem precisa de tanto espaço, né? Não uma menina só, ha...
"Estúpida... Estou mesmo perguntando-me se era você a pessoa "especial" quem eu esperava.."
Revirei os olhos e joguei Safya no chão. Ela rastejou atrás de mim com todas as pragas que ela poderia conhecer, mas eu simplesmente tirei os sapatos e o paletó do uniforme da escola e joguei-me numa cadeira da mesa em que eu havia encontrado o bilhete.
- É. Não sou mesmo.