Mas é tudo um segredo...

Sentei na pedra e observei a paisagem ao meu redor. Tudo tão branco... Frio, tudo tão frio.
As árvores sem folhas, com os galhos balançando pelo forte e congelante vento de inverno, que batia em meu rosto, deixando-o vermelho, e espantava os cabelos de minha face para poder receber mais algumas pancadas.
- Afinal, é tudo um segredo, não é? - Suspirei e comecei a estalar os dedos. Era uma mania horrível, mas eu não podia, ou melhor, não conseguia parar. - E daí se eu quebrar os dedos? Nem faria tanta importância... Eu não poderia tocar em você com ou sem eles, de qualquer forma... - Olhei para o céu, coberto pelas nuvens, mas que não estavam tão acinzentadas assim. Era um dia de inverno bonito... Por mais que doloroso.
Joguei-me na relva coberta pela neve, e passei a mão pelo meu casaco.
Sozinha. As vezes era melhor assim... Sem ninguém para se apegar. Sem ninguém para fazer com que acreditasse em mentiras. Sem ninguém que machucasse você.
Mas as vezes podia ser ruim. Ruim pelo fato de que, quando alguém chegasse, você estaria tão desesperada por uma voz, um abraço, que acreditaria em qualquer coisa, sem nunca saber como eram as reações de uma mentira.
- É... Deve ser melhor se machucar uma vez e aprender, do que se machucar muitas vezes e nunca entender porquê. - Olhei para o lado e vi uma flor. Uma última flor, congelando, com as pétalas desesperadas, implorando por calor. Ser a última doía mesmo...
A arranquei do chão, sentando-me e observando cada detalhe da florzinha inocente. Estava branca, tingida e misturada com a neve. Beijei com os lábios já vermelhos de tanto frio as pétalas da flor. Acariciei com a ponta do dedo e deixei que uma lágrima caísse sobre ela.
- Eu te envergonho tanto assim, para ser tudo segredo? - Levantei os olhos para o céu, tentando impedir as outras lágrimas. - E... e eu sou tão idiota por chorar toda vez que penso que você tem vergonha de segurar minha mão? E-eu só queria que alguém me amasse de verdade... Queria que alguém cuidasse de mim... - Passei os dedos secando as lágrimas que desceram teimosas por meu rosto, e não pude mais conter minha voz. Solucei, deixando que as lágrimas banhassem a flor que eu pressiona com tanta força no peito. Deixava que ela ficasse mais fria, e que meu rosto sentisse mais dor com o vento que o espancava.
Já não tinha nenhuma palavra, nenhuma frase que espantasse ou então chamasse minha dor de volta. Só haviam lágrimas... Que iam embora, mas não levavam nada....
- Por que tem tanta vergonha de mim? Eu nunca fiz nada pra te deixar assim... E-eu... Eu só queria o seu amor... E... E... E nada. Não ganhei nada... Mas eu também não merecia, né? - Minhas lágrimas dançaram em volta do sorriso sem jeito que dei, do sorriso sem vida. - Não mereço nada... Nada, nada... Nunca mereceria... Não, nunca...
E então começou a nevar.
Os meus cabelos foram ficando brancos, minhas lágrimas foram ficando mais geladas do que já estavam, minhas mãos foram ficando vermelhas, e meu corpo não conseguia resistir mais ao frio.
- É... Os segredos não deveriam existir, não é? Como meu amor por você... Ele é um segredo... Simplesmente não deveria existir.

1 comentários:

  1. Manuzinha , meu amor eu posso usar esse conto para a tarefa de portugues ????Prometo que te dou creditos !!!

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