O último suspiro.

"- Não... Você não está cuidando de mim... Está me protegendo... - A menina sorriu, com a voz arrastada, a garganta jorrando sangue, com o vermelho saindo de sua boca. E morreu em seus braços."


As lágrimas rolaram pelo rosto de Anelys. Por que sempre terminavam assim, os amores? Doces amores...
Ah, como ela odiava esses livros... Como ela precisava deles!
Cada palavra, cada frase. Cada história contada em pequenos parágrafos, que juntavam-se e formavam uma vida. Eram como drogas.
Ela as odiava. Faziam mal. Mas mesmo assim ela necessitava delas. De cada uma delas. De todas elas.
Seus sentimentos eram meramente conduzidos pelas histórias. Sua humanidade, pelas palavras.
Ela era feita delas. Não de verdade. Mas sim, sua alma.
Seu alimento eram cada letra, cada acento. Ávidamente devorando livros e mais livros. Sem pensar nas consequências.
Deixava todos de lados, ela não se importava. Tinha amigos ricos, amigos pobres, amigos bonitos, amigos apaixonados. Tinha personagens. Tinha seres que não eram reais, mas sim saiam da cabeça humana e criavam vida em sua mente, criavam laços familiares, criavam laços de amor.
Ahh, sim. Ela os amava.
Cada um deles.
Cada parte deles, ela os conhecia. Cada fio de cabelo, sabia dizer o comprimento, sabia dizer a cor. Sabia como eles se sentiriam, o que falariam. Era fissurada. Totalmente fissurada neles.
Seu amor podia ser definido por palavras que tinham sido dedicadas para outra pessoa. Seu ódio, também. Sua dor. Sua felicidade.
Tão independente das emoções dos seres inanimados.
Sendo que devia ser totalmente ao contrário.
Eles precisariam dela para viver. Para sentir. Para poder continuar vivos.
Mas ela dependia deles para seguir em frente e esquecer o mundo em sua volta.
O mal que reinava nos livros, esses ela poderia derrotar. Sempre derrotava.
Mas agora?!
Não!
Aquilo mudara, quando a menina morrera nas mãos de seu amado amigo. Tão corajoso e tão apaixonado! Como ela odiava tudo aquilo!
Que tipo de humano era aquele, que matava e esquartejava todos os bons, e deixava que o mal pairasse no seu cruel mundo? Que tipo de escritor era esse?!
Anelys fechou o livro e o jogou no chão do quarto. Era tarde da noite. As velas iluminavam o local, junto com o fogo da lareira. Ela abraçou as pernas e cobriu os ombros com o cobertor, olhando para todos os lados.
Sozinha. Ela estava sozinha.
Seu mundo tinha desmoronado quando a menina tinha se afogado em seu próprio sangue.
As lágrimas dançaram ainda mais por seu rosto, e os dedos ficaram gelados. Nada mais estava normal em sua vida. Sozinha. Nunca ela estivera sozinha, sempre tendo um livro debaixo de seu braço. Mas agora ela tinha o lançado no chão, junto com o final doloroso que ele tinha reservado.
Sim, aquele era o final.
A última frase.
O último suspiro.

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