Aventuras de uma escritora medieval. (Capítulo 2)

"Quem é você, morte? Quem a fez viver para matar? Quem foi o tão convencido homem, que faria com que sua tão triste mãe troxeu-se a você à vida? Aquela que trás a morte, aquela que propriamente é. Aquela que um dia morreu por vingança de sua tão odiada filha, filha que tomou-lhe o lugar, e agora a fazia de serva. Você, morte, é um ser de escuridão, mesmo as vezes trazendo a luz. Você, morte, é somente um ser que me deixa sem alma, um ser que leva meus amores, e os deixa dormirem sonhando com minhas lágrimas..."


As lágrimas caíram no pergaminho e manchou a tinta das minhas palavras. Que se dane.
Não podia suportar a dor de ver aquela forca. Toda vez que passava para comprar algo no mercado, e quando ia trabalhar, tão cuidadosa com meu disfarce, via o corpo de minha mãe balançando ao vento. Maldito era aquele rei, que tanto gostava da dor dos parentes dos mortos ali pendurados. Ele os deixava em exposição, até que os corpos aprodecessem, o que levava uns 3 dias, para poder levarem eles até algum lugar na floresta e jogá-los sozinhos lá. Nenhum enterro que os deixasse com um pouco de calma. 
Por que com minha mãe era diferente? Já tinha-se passado 1 semana e seu corpo ainda exalava um perfurme de flores. O que tinham feito à minha mãe para que ela permanecesse tão inteira? O seu rosto estava limpo, as vestes tinham sido trocadas, e os cabelos penteados. Quem podia ter feito isso e por quê?
Diziam por aí, lavadeiras que sempre estavam fofocando, que era o próprio rei quem mandara conservá-la daquele modo. Diziam que a beleza de minha mãe era única, com os olhos azuis e os cabelos negros sedosos esvoaçando no ar. Diziam que o rei a admirava de seu trono, que continha uma janela específica direcionada para as forcas, justamente para ele sorrir quando se virasse e encontrasse os corpos dos mortos. Mas que agora ele somente usava para admirar o corpo de minha mãe, sua face, seus cabelos, seu corpo.
Naquela noite decidi ver se era realmente verdade. Prendi meus cabelos e pus o chapéu que usava para o esconder, passei um pouco de fuligem em meu rosto para o escurecer, e vesti minhas vestes de homem. Quando olhei meu corpo na água, que refletia não só a luz do luar mas sim a mim, fiquei impressionada em como eu parecia com ela. Os mesmos olhos azuis, o mesmo cabelo negro, mesmo que curto, o mesmo corpo magro e bem definido. Claro que aquelas roupas estufadas me deixavam mais forte, mas era a mesma cara de mulher. Como as pessoas conseguiam ser enganadas com aquilo?
Estremeci por causa do frio, e me dirigi até a praça central. As lavadeiras tinham dito que era a meia noite que o Rei ia visitar minha mãe, que ele a beijava e que passava a mão por todo seu corpo. Alguém apaixonado por uma pessoa morta. Mas que romantico, mas que estúpido. Cheguei à praça e me escondi atrás de uma vendinha já fechada. Esperei e ele realmente tinha ido.
Lá estava o Rei, vestindo suas roupas pomposas, beijando as mãos e os lábios de minha mãe. 
Eu o admirei por um longo tempo. Ele era realmente um homem bonito, mas de mau coração e de alma perturbada. Os olhos eram castanhos, os cabelos também. Era jovem, tinha uns 20 anos. Não tinha sido a muito tempo que tinha se tornado Rei. Com 18 anos ele já estava no trono, com a morte de seu pai, que, diziam as lavadeiras, o próprio filho havia causado. Tinha a barba bem feita, e tinha um corpo forte. Enrubeci. Ele estava ali, beijando os seios de minha mãe, uma mulher morta, que ele mesmo havia mandado matar, e eu estava pensando em como ele era atraente? Idiota, pensei, indo embora dali. Que ousadia. 
Mais lágrimas vieram ao meu rosto, quando lembrei a mim mesma que no dia seguinte eu teria que enviar ao rei uma encomenda que ele havia feito. Um poema de tristeza, misturado com amor e com vingança. Nem sequer tinha começado. Agora eu sabia para quem era o poema, para quem ele leria em voz baixa à meia noite.
Minha mãe tinha conquistado o coração de um rei e morreu sem saber. Será que sua alma se contorcia no mundo da morte com os toques de prazer que o Rei dava nela? Ou será que ela o apreciava e sorria, vendo que tinha um Rei em suas mãos mortas? Não. Ela sempre havia dito maus bocados sobre ele. Não, ela o odiava. 
Voltei para casa e joguei as roupas de homem fora. Deitei  na cama de palha, e cobri meu corpo nu com a coberta feita de pele de animais, os quais tinha caçado para fazê-las, quando ouvi minha mãe reclamando do frio.
Olhei para o céu e perguntei onde ela estaria. Ou se me ouvia chorar, implorando para que ela voltasse. A morte não a deixaria voltar, mas mesmo assim eu tentava a chamar, com as minhas mais belas palavras, do modo que minha mãe tinha me ensinado. Mas eu nunca tinha conseguido. Saí da cama e cobri meu corpo com o cobertor. Sentei na escrivaninha de minha mãe e peguei o melhor pergaminho que tinha ao meu lado. Mergulhei a pena na tinta e comecei a escrever. As lágrimas que eu queria deixar não caiam, e meu corpo tremia pela raiva e pela dor. Olhei para as estrelas e parei de escrever. Amanhã seria o dia em que meus sentimentos misturaríam-se com os do Rei, sem ele nem sequer notar.

PSSSSSS: Gente, desculpa. Nos últimos textos eu cometi grandes erros, mas não foi minha culpa, tava escrevendo no carro, numa estrada com umas mil lombadas (ridículo, no meio de uma montanha.), mas eu vou arrumar, quando perder a preguiça. Obrigada (:

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