Aventuras de uma escritora medieval. (Capítulo 3 - Parte 2)

- Parada aí, mocinha! - Uma lança dominou o meu olhar e fiquei vesga, vendo a ponta brilhante e bem afiada da besta. - O que veio fazer aqui no castelo?  - Levantei os olhos e encarei o soldado. Idiota, tinha que ameaçar assim até as damas indefesas? Sorri, um sorriso maldoso, mas com certeza aquela carinha bonitinha que ele tinha não conseguia notar a diferença. Como se eu fosse uma dama indefesa.
- Perdão, sou Sophie Stone, e estou aqui a favor do poeta Lázaro Roberts. O Rei encomendou por meio deste um poema, e vim entregar-lo em mãos do nobre. - Tornei meu sorriso calmo e sedutor, enquanto alisava meu vestido. Bem ali onde estava minha mão escondia-se uma faca.
- Oh, sim. Pode passar. - Ele assentiu com a cabeça. - Abram os portões! - Gritou, e logo o pesado portão que protegia o castelo foi levantado.
Passei por ele com o queixo erguido, com uma postura perfeita. O soldado deu um tapa em minha bunda e riu uma risada maliciosa. Fiquei vermelha de raiva, mas jurei ficar quieta. Tinhha guardado o rosto daquele homem muito bem em minha cabeça, e no dia que eu o enganasse para ir para minha cama, ele seria um homem morto sem prazer algum.
Entrei no castelo com a cabeça ainda erguida, e logo apertei a dobra do vestido aonde escondia a faca. Morto.
- Quem é você? - Uma mulher de cabelos loiros e olhos azuis claros (de longe nada parecidos com os meus, que pareciam banhados em leite), com uma veste vermelha de seda me parou no meio do caminho.
Nunca tinha me achado feia até ver ela. Os cabelos eram compridos, lisos, presos em um penteado complicado que devia ter durado muito tempo para se fazer, os olhos bem encontrados, pintados, e a boca vermelha. E, além de tudo, tinha o corpo bem definido por causa da roupa. Uma cintura fina, não tinha muito do busto, mas já era o suficiente para chamar atenção nos homens, e magra. Além de tudo magra.Eu era nada do lado dela. Com o vestido esfarrapado, com os cabelos curtos e ondulados, um corpo bonito, tudo bem, mas as minhas roupas não o deixavam atraente como ele de verdade era. Mas eu tinha mais busto, isso com certeza.
Fiquei vermelha. Notei que tinha perdido a fala e que parecia me importar com quem era a mais bonita. Para quem? Tirei isso de minha cabeça, concentrando-me no único motivo de estar ali: O poema dedicado à minha mãe.
- Hãn... Sou Sophie, senhorita. Vim a favor do poeta Láz...
- Ah, sim! Você. É a menina que trabalha para ele? Pensava que era mais bonita. - Ela espantou uma mosca invisivel no ar, com um ato surpreendentemente delicado. Meu rosto pálido devia estar muito vermelho. Como ela era feminina e eu... Eu era uma moleca que se fantasiava de homem! - Siga-me, ele já o espera.
Respirei fundo e a segui. Senti vontade de abaixar o rosto e escondê-lo enquanto ela estava perto de mim, mas não o fiz. Continuei com o nariz empinado, postura correta, examinando cada detalhe do castelo com minha eterna curiosidade. "Um dia você ainda morrerá com essa curiosidade toda, Sophie. Mas não posso impedir que seja assim..." Sorri ao lembrar do que minha mãe sempre dizia sobre a minha curiosidade. Realmente, eu um dia ia morrer por causa disso. Mas agora, o que eu queria era ficar do lado dela, e se para isso precisasse morrer, eu morreria.
- A senhorita Stone já chegou com sua encomenda, senhor. - A menina sorriu carinhosamente para o Rei. Deve ser a moça que trabalha com ele na cama., pensei. Só podia ser.
- Ah, ótimo. - O Rei tirou os olhos da janela, parando o olhar em mim. Um olhar assustado, um olhar de medo, como se tivesse visto um fantasma. Ele ficou calado, mas continuou me examinando. Perguntei-me o porquê daquilo tudo e lancei um olhar rápido para a janela pela qual ele tanto olhava. Ah, sim.
Lá estava o corpo de minha mãe. Tão bem cuidado... Doente, aquele rei era doente.

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