Aventuras de uma escritora medieval. (Capítulo 3 - Parte 3)

- Pode sair, Liliane, quero conversar um pouco com a senhorita Stone. - Ele chamou com a mão alguém, ao mesmo tempo que Liliane saia, me encarando, com os olhos cheios de ódio. Aquilo não era nada bom. Quando voltei meus olhos para o Rei, ele tinha em suas mãos um vinho tinto. Tomou um gole e sorriu maliciosamente para mim. Enrubeci. Como ele era bonito, aquele desgraçado. - Então é a senhorita que trouxe o poema de Lázaro até mim?
- Sim, senhor. - Cruzei as mãos atrás de mim, e assenti com a cabeça. Tentei o máximo parecer submissa, mas minha mãe havia ensinado-me a não ser. - Aqui está. - Tirei o pergaminho de uma dobra em meu vestido, e um mordomo tirou-a de minha mão delicadamente, abaixando-se um pouco demais, olhando meus peitos. Lancei um olhar congelante a ele. Ele saiu tão rapidamente de perto de mim como chegou.
O Rei continuava olhando para mim, sorrindo de orelha à orelha. O mordomo entregou-lhe o pergaminho, e sem tirar os olhos de mim, o Rei o recebeu.
- Então, senhorita, é casada com Lázaro? - Ele abriu o pergaminho tão rapidamente que senti uma dor horrível de só imaginar que as palavras para minha mãe podiam ser rasgadas com mais um toque do Rei. Mas não foi assim.
- Não. - Ele levantou as sombrancelhas e o mordomo lançou-me um olhar de horror. Tinha esquecido-me. - Perdão. Não, senhor. Sou somente uma mensageira. Ele contratou-me para entregar suas encomendas, pois tem muito trabalho e não tem como entregar seus trabalhos pessoalmente.
- Ah, bem. É realmente uma pena para ele não ter a senhorita como esposa. Parece... Graciosa. - Ele sorriu mais ainda o sorriso malicioso e levantou do trono. Ele era alto, realmente alto. Do mesmo modo que Bernad. Uma capa vermelha aveludada deslizava atrás dele. O Rei chegou perto de mim, e, olhando nos meus olhos, pegou a minha mão. Senti vontade de retirar a minha mão fria da mão quente dele, e depois dar-le um tapa, mas eu não podia. Mordi minha língua para ficar quieta, mas  ele percebeu, dando uma risada forte. - O que houve, senhorita Stone? Como posso chamá-la, aliás? Como era mesmo seu nome? Sofia?
- Sophie... Senhor. - Levantei o queixo ainda mais, e ele apertou minha mão, conduzindo-me até a varanda.
Era realmente linda.
Estava cheia de flores, muitas orquídeas, de todas as cores. Bem no meio de todo aquele explendor estava uma mesa posta e duas cadeiras. Ele puxou uma delas e eu me forcei a sentar nela. Mas ele não se sentou. Em vez disso continuou em pé, admirando a vista. Levantei um pouco da cadeira para ter a mesma vista que ele, e pude perceber que ela dava para a praça principal, com a forca de minha mãe bem no meio. Quantos lugares ele tinha para admirá-la?
- Ela não é linda?
- Senhor?
- A moça na forca. Ela não é linda? - Ele sorriu e sentou-se à minha frente, e meu corpo começou a tremer. Ele era lindo e eu não podia negar isso. Que minha mãe me perdoasse, mas por um momento eu o desejei. Até lembrar de quem falávamos. Fiquei calada, fazendo que sim com a cabeça. Ele riu e levantou-se novamente, puxando-me pela mão e logo levando-me até onde a vista era melhor. - Quando ouvi seu sobrenome soube que era filha dela. Eu sinto muito. Foi realmente um desperdício, mas ela escrevia, e a senhorita sabe como isso é extremamente proibido aqui...
- Não sente nada. - As palavras saíram de minha boca e meu rosto ficou vermelho. Ele apertou minha mão com força e eu mordi a língua até sangrar. Mas o único que o Rei fez foi sorrir mais e mais. Ele passou o dedo por meus lábios de modo a ver uma gota de sangue. - Você é diferente. Age independentemente, diferente de todas as outras, que curvam-se diante minha cama o mais apressadas possível. - Ele levantou mais meu queixo e beijou minha boca, limpando o sangue com a língua.
Afastei-me dele e virei a cabeça, olhando com lágrimas nos olhos o corpo de minha mãe. Como eu odiava esse homem! Como ele era atraente demais para ser tão odiado!
- Perdão, mas eu devo ir. O senhor Roberts deve estar me esperando para mais uma encomenda. - Dei as costas para o Rei, mesmo todos dizendo que não se devia fazer isso. Que se dane!, pensei.
- Ah, Sophie. - A menção de meu nome me fez ficar com mais raiva, mas eu já tinha dito de mais. Fechei as mãos em punhos, mas ele as pegou, e pôs a mão em minha cintura. Tirou de um bolso o pergaminho, que eu não tinha notado, mas ele havia guardado antes, e sussurrou em meu ouvido. - Só peço que ouça as palavras que Lázaro escreveu à mim. Devem ser bonitas, já que são dedicadas para a sua mãe. Sabia que vocês duas são idênticas? - Ele levou a outra mão para minha cintura, depois de entregar-me o pergaminho. - Sei que a senhorita não sabe ler, mas eu adoraria que ouvisse todas as palavras com completa atenção. - A voz dele dominava minha cabeça, dominava com raiva, com ódio, com prazer. Ele levou as mãos para um pouco mais acima, e eu saí de seus braços, indo diretamente à sala do trono.
- Quem lerá, senhor? - Meu coração batia mais rápido, e minha cintura formigava com os toques dele. Maldito, maldito sedutor.
- Você mesma. - Ele riu e parou bem em minha frente, com o rosto a centímetros do meu. 

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