Nós, mulheres.

Ter as palavras em sua boca é difícil. Conviver com as mesmas pior ainda, sabendo que tem o poder de machucar e matar, e ao mesmo tempo o poder de fazer com que alguém te ame sem você ter tido aquela intenção. Mas em realidade, se você aprende a manejá-las, se você aprende a amá-las e cuidá-las, elas farão o mesmo com você. Elas irão te proteger, irão beijar seus lábios como agradecimento por deixar que elas sejam livres.
Pode parecer difícil, afinal de fato é, mas as palavras do mesmo modo que são traiçoeiras e más, tem um coração mole e amam do mesmo modo que seu amo. Somos todos amos das palavras, mas depende tanto do modo que elas saem de sua boca e da intenção que elas querem chegar até a pessoa a quem você as dirigiu, que acabamos virando escravos delas também.
Mas não devemos nos preocupar com isso, pois se um mestre sabe seu ofício, sabe como ordenar com que ele o obedeça. E os poetas estão ali, como soldados, tranferindo as palavras por meio do papel e da voz grossa, falando de batalhas sangrentas, falando do mal, do ruim, são como gigantes, que por mais que sejam grandes e brutos, têm seus lados dóceis. 
E as poetizas estão aqui, como fadas, delicadas e belas, soprando com seus sussurros palavras de amor, e a dor que o mesmo trás. Palavras que parecem ser inocentes, palavras que falam da tristeza da mulher ao perder seu filho, mas entre linhas dessas tão comoventes servas da voz, aparece o coração frio de uma mulher, o coração que um dia foi despedaçado e sabe o que é sofrer.
Sim, realmente as poetizas são como fadas, que contém seus rostos delicados e sorrisos incandecentes, escondendo dores e a frieza de um ser. A maldade e as torturas que a mesma podia fazer com alguém, simplesmente para o bem de algo, alguém, ou até ela mesma.
Sim, somos frias, as mulheres. Mas somos frias de bom coração, somos anjos caídos querendo desesperadamente voltar ao céu, procurando desesperadamente uma saída. Somos frágeis como vidro, nosso coração mais ainda. Se nos deixam cair no chão uma vez, quebramos, e nos reconstítuimos, para depois ver as cicatrizes das rachaduras por todo o corpo, que a cola não conseguiu esconder. 
Sim, nós nunca esquecemos. Nós levamos certas lembranças até a morte. E o pior de tudo é que você não pode impedir isso. Nem você nem suas palavras, homem. Suas palavras de poeta não vencem nem enganam as minhas, minhas servas, minhas criadas, mas ao mesmo tempo minhas amas, minhas donas.
Eu sou feita de palavras, e quanto mais palavras eu vou libertando, outras mais me fortalecem, me ensinam. Eu sou feita de palavras de guerra, de amor, de dor, de frieza, de carinho, de maternidade, de traição.
Sim, nós somos mesmo como fadas.
Nós, poetizas. 
Nós, mulheres.

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