Aventuras de uma escritora medieval. (Capítulo 3)

"Os teus beijos em seu corpo morto não a farão voltar a viver. Os teus beijos a faziam chorar lágrimas que viravam chuva no mundo dos mortos, faziam com que ela tremesse de repulsa. Queria mesmo isso para sua amada, querido? Queria mesmo a morte para a alcançá-la?"


Acordei com os membros doloridos, com o rosto cansado. Tinha ficado a noite escrevendo. Tinha notado que não conseguiria escrever aquilo sem riscar um pouco o papel, então cortei um pergaminho velho que usava para rascunhos e me pus a escrever. Duas horas riscando as palavras até encontrar as corretas.
Levantei da cama e penteei meus cabelos, enquanto re-lia o que havia escrito. Aquilo agradaria o Rei. Passei a mão pelos meus cabelos e depois por meu corpo nu. Dobrei com delicadeza o pergaminho e o fechei com o selo que tinha adotado como poetiza. Ou melhor, poeta. Todos acham que Sophie Stone era somente uma secretária, que o poeta Lázaro Roberts mandava para entregar seus trabalhos, já que era muito ocupado. Como as pessoas eram estúpidas em pensar isso.
Ri enquanto colocava meu vestido e prendia os meus cabelos. Arrumei a saia e olhei meu reflexo na água. Por mais que o Rei não merecesse meu respeito, eu devia estar bem apresentável quando aparecesse na frente do mesmo. Revirei os olhos, e fiz uma careta de nojo, relembrando dos beijos que ele dava em minha mãe, do modo que a alisava. Estremeci e chutei o balde mais perto. Estúpido, maldito, mil e uma maldições para "Vossa Alteza"!
Saí de casa cedo, sabendo que haveria alguém para me retardar. Sempre acontecia o mesmo, todas as vezes que necessitava chegar cedo em algum maldito lugar. E eu estava certa.
- Sophie! Sophie, bom dia, como vai? - Bernad correu até mim com os olhos cinzentos brilhando e com os braços abertos. Forcei-me a dar um sorriso. Ele nunca tinha feito nada à mim, só ter me amado por todo esse tempo e nunca ter desistido de mim. Bernad tinha a mesma idade que eu, 17 anos, e trabalhava com o pai como ferreiro. O que levava todo meu raciocínio para o corpo dele. Bernad e eu tinhamos vivido juntos por muito tempo, nossas mães eram e sempre foram amigas, de modo que eu o conhecia desde a infância. Quando ele tinha 10 anos tinha dito-me que era completamente apaixonado por mim. Na época eu tinha rido. O via somente como um amigo, e nada mais, mas agora eu me decepcionava por não ter aceitado o pedido de casamento que ele tinha dado-me aos 15 anos. Eu nunca tinha vontade de casar, e era realmente com essa idade que algumas meninas já tinha filhos de 3 anos. 
- O que você acha? Estou bem no máximo possível, Bernad. No máximo possível das situações. - O abracei e logo pus meu cabelo para trás. Ele me olhou com os olhos cheios de dor e tristeza.
- Também doeu pra mim. - Ele acariciou o meu cabelo, ainda me abraçando. - Eu sinto muito. - Bernad sussurrou no meu ouvido as palavras, com o tom de voz perfeito, grossa, mas não assustadora. A voz dele me encantava, a delicadeza dele me encatava. O rosto e o corpo dele me encatava. Ele é bom demais pra você, Sophie, fique quieta. O perdeu uma vez, o perdeu para sempre! , a voz da razão tomou conta da minha mente, mas eu deixei-me embalar nos braços dele e sentir os beijos no rosto que ele me dava. Por quê ele me amava tanto? Como ele conseguia amar alguém que o tinha deixado de lado no momento mais importante de toda a sua vida? 
As lágrimas correram pelo meu rosto, mas ele as secou com o dedo e beijou meus olhos. - Não precisa ficar assim. Eu estou aqui pra quando você precisar, sabe disso. E sua mãe está cuidando de você... - Mais uma vez a voz de anjo dele dominou meus sentidos, e eu levantei os olhos para examinar seus olhos. Mas eles estavam cobertos pelos cabelos loiros, que ele não se dava ao trabalho de cortar, mas mesmo assim continuavam curtos o suficiente. Examinei os braços bronzeados dele, os músculos, o corpo, tudo. 
- Obrigada! Eu não vou esquecer disso, Bernad... - Funguei e sequei as lágrimas. Arrumei meu cabelo e levantei os olhos, tendo o sorriso branco de Bernad em troca. Meu coração bateu mais forte e mais rápido. Como ele tinha se apaixonado por mim? - Eu tenho que ir, desculpe... Eu realmente queria ficar aqui com você, mas... - Interrompi minha fala, e fiquei vermelha. Não era para eu ter dito aquilo. - Hm... Bem, já vou indo, até mais.
Preparei-me pra correr, mas antes Bernad conseguiu puxar-me pelos braços e beijar minha boca. Fiquei mais vermelha ainda.
- Até mais. - O sorriso dele iluminou toda a manhã, e pela primeira vez me perguntei o que ele fazia acordado aquela hora bem na frente da minha casa. Meu corpo tremeu e sem dizer uma palavra, corri até o castelo.


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