A Alquimista (Parte 4)

Eu já não sabia para onde estávamos indo.
A cada passo que ele dava, eu percebia uma mudança. Percebia um movimento. Uns mais rudes, outros mais delicados; como se Jefferson mudasse de emoções o tempo todo, como se não soubesse o que sentir, o que fazer, entre chorar ou continuar sério.
- Jeff... Tá tudo bem?
-Claro. Por que não estaria?
-Por nada... - Eu fui boba. Ele realmente não ia se culpar pelo fato de ter posto fogo em minha casa... Como ele tinha dito, eram ordens... - Foi ordem de quem?
-O quê?- Ele se virou e me encarou, sem entender. Nossos rostos se encontravam a centímetros de distância, e eu respirei fundo, ignorando, o máximo que eu podia, os meus desejos tolos.
-Quem mandou você queimar minha casa?
-Está ressentida? Alexa, isso já é passado, deixe pra lá!
-Jefferson! - A utilização do nome inteiro de Jeff atingiu até a mim. Não o chamava pelo nome desde que ele tinha decidido ir para fora da cidade, para estudar. Era burrice minha brigar com ele, afinal eu tinha 13 anos, e ele 16. Não queria deixá-lo preso a mim, mas eu não queria que ele fosse embora... -  Só... Me responda.
-Por que quer saber?
-Ah... Sei lá... Hãn... O fato de ter sido a minha casa e meus pais que ali foram consumidos em chamas? Não sei sabe...
-A sua ironia não mudou em nada.
-Você quem mudou. Eu continuo sendo eu mesma.
Ele bufou, e eu pude sentir o ar quente que tinha saído da boca dele em meu rosto. Fiquei encarando-o nos olhos, e ao mesmo tempo contemplando a beleza dele.
A muito tempo que eu não olhava direito para ele. Muito tempo que não notava os cabelos negros dele, que caiam sobre sua face, a pele morena. Os dentes eram tão brancos, que quando ele sorria, o sorriso se destacava. E eu achava lindo. O melhor sorriso de todos. O mais belo.
-Eu mudei... - Ele sussurrou, falando para si próprio. - Alexa... - Ele voltou os olhos pra mim, e eu fiz sinal para que ele continuasse. -  Em que eu mudei?
-Está mais rude, irritado... Não sorri mais. Não me suporta mais.... Eu fiz algo de errado pra irritar você? 
-Não. - Ele voltou a se virar e recomeçou a caminhar, dando-me as costas. - Se eu mudei não é problema seu.
-Viu... Grosso.
Ele suspirou, irritado, e eu revirei os olhos. Nada mais nele era como tinha que ser.


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