O que o silêncio define?

Pois lá estava eu, caminhando sem rumo pelos cantos de minha cidade.
Olhava para todas as esquinas, e para o que ocorria dentre os becos.
Algumas pessoas brigavam, em outros tinham casais se "agarrando" e em um havia um velhinho. Ele me chamou com os dedos e eu fiquei com medo...
Fingi que não o via, mas me senti rude...
Cheguei quieta, e parei em frente a ele. Ele sorriu amarelo, com alguma falta de dentes, e se levantou.
Pude então prestar mais atenção no físico do senhor.
Era um típico mendigo... As roupas rasgadas e maltratadas, mostrando o tempo que o senhor não tomava um banho e se vestia bem (Pelo cheiro, também se notava); meu coração se apertou e eu abri a boca para falar algo, mas nada saiu de voz.
- A senhorita não é de falar muito, não é?
Eu sorri. Não era tratada com o termo senhorita em todos os lugares, e achava cavalheiro ser chamada de tal forma. Suspirei e decidi conversar com o senhor.
- Não muito... Sou muito silenciosa.... Sou fraca...
-porque diz isso? - Ele olhou-me curioso, e parecia ficar intrigado.
-O silêncio define o fraco...
- Explique.
-Bem... Veja... Os maldosos riem, e acabam sempre perdendo as batalhas, não tenho medo o riso dos maus... Mas... Quando o bom se silencia... Bem... Mostra a fraqueza... Não é?
-O que a senhorita acha?
- Que sim, oras.
-Está errada... - Ele pegou minha mão, e senti a pela áspera do senhor. - Os bons se silenciam... Mas você já pensou no sofrimento que eles tem? Nos mil pensamentos que devem os rodear em todas as horas? 
Eu parei para pensar. Era verdade.
Todo ser humano, bom ou mau, tem seus sentimentos, suas angústias, seus medos...
-Então... O bom ele..- Desisti da pergunta e o olhei curiosa. - O silencio seria o que, senhor?
-O silencio define a falta de palavras e frases que possam expressar nossos sentimentos.
E, por mais que aquela frase fosse simples, fosse até mesmo muito conhecida, marcou minha vida.
Depois de mais algum tempo conversando com o senhor, eu sai, e voltei para minha casa.
Desde então todos os dias eu ia para aquele beco, e levava comida, roupas e outras coisas para o senhor, por respeito, por gratidão.
Era bom conversar com ele, era bom entender o significado de muitas coisas... Era com esse senhor que eu esquecia do meu silencio, e era com esse senhor que eu trocava idéias...
E este senhor marcou minha vida. E, quando ele morreu, eu chorei, e me senti em uma eterna depressão... 
Meu amigo, mesmo de idade, tinha ido embora, e eu não sabia com quem mais trocaria meus sentimentos?
Eu não conseguia responder... Eu não conseguia falar... Eu me aprofundei num silencio eterno... Eu não sabia o que sentia, eu não sabia se sentia, eu ainda não sabia se estava viva, ou só era mais uma matéria na terra...
Foi então que lembrei das palavras do senhor... Da nossa primeira conversa, e chorei mais. Chorei falando. Chorei soltando tudo o que queria. Chorei com um barulho ridiculo... Mas pelo menos, pelo menos, aquilo era bom.]