Eu não via.
Eu escutava. Eu sentia.
Mas eu não via.
Sabia o que acontecia ao meu redor. Ouvia os xingamentos que recebia, e também ouvia as sentenças dos mal tratos que receberia.
Por que?
Não sei.
Queria saber, mas não acreditaria se não visse.
Mas eu não podia ver nada.
Meus olhos estavam lá. Sentia quando eu piscava, que parecia cada vez mais lentamente o meu ato.
Eu sentia.
Pois alguém me segurou pelo braço, e voz grossa e assustadora, me deu arrepios ao sussurrar no meu ouvido.
Eu ouvia.
Ouvia facas sendo afiadas. Ouvia urras, e vaias. Ouvia as correntes. Ouvia os chicotes.
Eu também os sentia. E desejei nunca querer sentir.
Senti cada chicotada na pele desprotegida, pois meu vestido tinha sido rasgado com facas.
Senti algo pontiagudo na garganta.
Gemi.
Nesse momento queria não poder falar. Nem sentir.
Mas, acima de tudo, não ouvir.
Pois o que não cortava meu ser físico, cortava meu espiritual.
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